Crise se agrava no Egito; empréstimo do FMI é adiado

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Por YASMINE SALEH E MARWA AWAD
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Um empréstimo vital de 4,8 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao Egito será adiado para até o mês que vem, informou o ministro das Finanças egípcio nesta terça-feira, intensificando a crise política que afeta o país mais populoso do mundo árabe. Enquanto facções rivais reuniam-se no Cairo e em Alexandria para uma nova rodada de manifestações, o ministro das Finanças, Mumtaz al-Said, afirmou que o atraso do empréstimo se destinava a ganhar tempo para explicar as medidas do pacote de austeridade econômica ao povo egípcio. O anúncio foi feito depois que o presidente Mohamed Mursi recuou, na segunda-feira, de seus planos de aumentar os impostos, considerados chave para a obtenção do empréstimo. Os grupos da oposição criticaram duramente o pacote fiscal, que inclui taxações sobre bebidas alcoólicas, cigarros e uma série de bens e serviços. "É claro que o adiamento terá algum impacto econômico, mas estamos discutindo as medidas necessárias (para lidar com isso) durante o próximo período", disse o ministro à Reuters. E acrescentou: "Estou otimista... tudo ficará bem, se Deus quiser." O primeiro-ministro Hisham Kandil disse que o Egito solicitou o adiamento do empréstimo por um mês. "Os desafios são econômicos e não políticos e precisam ser lidados em separado da política", afirmou ele em uma entrevista coletiva. Kandil disse que as reformas não afetarão os pobres. Pão, açúcar e arroz não serão atingidos, mas o cigarro e o óleo de cozinha subirão e serão impostas multas para quem jogar lixo na rua. Na tentativa de reconstruir um consenso, ele disse que haverá um diálogo nacional sobre o programa econômico na semana que vem. Em Washington, o FMI informou que o Egito solicitou o adiamento do empréstimo "à luz dos acontecimentos que se desenvolvem no local". O Fundo mantinha-se pronto para consultas com o Egito na retomada das discussões sobre o empréstimo congelado, afirmou uma porta-voz. HOMENS ABREM FOGO Nas ruas da capital, a tensão era grande depois que nove pessoas ficaram feridas quando homens armados atiraram contra os manifestantes acampados na Praça Tahrir, de acordo com testemunhas e a mídia egípcia. A oposição convocou uma grande manifestação na esperança de forçar Mursi a adiar o referendo sobre a nova Constituição. Diante do palácio presidencial, dezenas de manifestantes derrubaram dois blocos de concreto gigantes que formavam uma parede bloqueando o acesso ao local. Milhares de simpatizantes de Mursi, que quer que o plebiscito ocorra no sábado, como planejado, se reuniram em uma mesquita nas proximidades, preparando o palco para novos confrontos de rua em uma crise que divide o país de 83 milhões de habitantes. Na segunda maior cidade do Egito, Alexandria, milhares de manifestantes rivais se reuniram em locais separados. Os simpatizantes de Murzi cantavam: "O povo quer a implementação da lei islâmica", enquanto seus opositores gritavam: "O povo quer derrubar o regime". A agitação no país, depois da queda de Hosni Mubarak no ano passado, preocupa o Ocidente, em especial os Estados Unidos, que tem dado ao governo egípcio bilhões de dólares em ajuda militar e outros tipos de assistência desde que o Egito fez a paz com Israel em 1979.

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