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Daniel Dantas, Pitta e Naji Nahas são presos pela PF

Por EDUARDO SIMÕES E MAURÍCIO SAVARESE
Atualização:

Uma operação da Polícia Federal para desmontar esquema de desvio de verba pública e corrupção levou às prisões do banqueiro Daniel Dantas e do investidor Naji Nahas nesta terça-feira. Ambos são acusados de chefiar organizações criminosas distintas: uma evadia divisas com um fundo de cerca de 2 bilhões de dólares em um paraíso fiscal e a outra fazia lavagem de dinheiro. A operação Satiagraha, nome que significa "resistência pacífica e silenciosa", também pediu a prisão do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, acusado de ser dono de uma conta bancária no exterior e de ser cliente de operações de câmbio irregulares feitas por Nahas. No total, a PF tem mandados de prisão para 24 pessoas e 56 de busca e apreensão. Dantas, dono do Banco Opportunity, Nahas e Pitta já estão sob a prisão temporária decretada pela Justiça Federal em São Paulo. Dantas e mais dez pessoas ligadas a ele, segundo o Ministério Público Federal (MPF), cometeram crime de evasão de divisas por meio do Opportunity Fund nas Ilhas Caimã, entre 1994 e 2002. Segundo a polícia, o volume movimentado pode superar os 2 bilhões de dólares, e o dinheiro seria lavado por Dantas também por meio da compra de gado. A operação foi classificada como "tão complexa que nem o próprio cabeça da organização criminosa sabia quantos clientes e quantos recursos havia", de acordo com o delegado e coordenador da operação, Protógenes Queiroz. Nahas e outros dez envolvidos terão de responder pelos crimes de formação de quadrilha, operação de instituição financeira sem autorização do Banco Central, uso de informação privilegiada e lavagem de dinheiro. O advogado que representa Dantas afirmou, em entrevista coletiva, que a prisão do seu cliente foi "ilegal, arbitrária e desnecessária" e que o banqueiro tem sido perseguido pela PF e pelo Ministério Público, que poderiam "estar atendendo a interesses de alguns segmentos do governo". O advogado Nélio Machado disse que está "amadurecendo" a idéia de que o governo federal estaria por trás da prisão de seu cliente e afirmou. Ele teve um rápido contato com Daniel Dantas na sede da PF, no Rio de Janeiro, e disse que o banqueiro está muito abalado. "Sem dúvida ele se encontra num estado de abatimento ... Mas ele me disse que não tem dúvidas de que sua prisão está ligada ao caso Telecom Itália." Procurados pela Reuters, representantes de Nahas e Pitta não estavam disponíveis para fazer comentários. Figura polêmica do processo de privatização das empresas de telefonia do país, Dantas vendeu no fim de abril por cerca de 1,4 bilhão de reais as suas participações na Brasil Telecom e na Oi, que visam se unir para formar a maior companhia de telecomunicações do Brasil. O investidor libanês Naji Nahas provocou um terremoto no mercado de capitais do Brasil em 1989. Ele foi acusado de realizar operações ilegais que quebraram várias corretoras e esvaziaram a Bolsa do Rio, principal mercado de ações do país na época. Após anos de batalha judicial, em que chegou a ser condenado a 24 anos e oito meses de prisão, Nahas foi inocentado pela Justiça e briga contra a BM&FBovespa, herdeira do mercado de ações, por uma indenização bilionária. MENSALÃO E TENTATIVA DE SUBORNO Dantas e Nahas mantinham conversas telefônicas e faziam negócios pontuais, segundo o coordenador da operação, que informou que as investigações sobre o fundo começaram em 2004 e tiveram desdobramentos após o escândalo do mensalão. O dono do Opportunity é suspeito de ter contribuído para o esquema de financiamento ilegal do PT, uma vez que empresas das quais foi acionista, a Telemig e a Amazônia Celular, fizeram pesados depósitos em contas do empresário Marcos Valério, que é acusado de ter sido intermediário do suposto esquema de compra de apoio político no Congresso. "Na apuração foram identificadas pessoas e empresas beneficiadas no esquema montado pelo empresário Marcos Valério para intermediar e desviar recursos públicos", disse Queiroz, que se recusou a responder se o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, estariam vinculados às investigações. "Esta investigação ainda tem muito conteúdo sigiloso", disse Queiroz, sem dar mais detalhes depois de ser perguntado. Além das acusações em inquéritos anteriores, como a de espionar adversários e membros do governo, Dantas também responderá por ter tentado subornar um delegado da PF com 1 milhão de dólares, disse o procurador da República Rodrigo de Grandis. Os banqueiro, disse o procurador, buscava ter o seu nome, o da irmã Verônica Dantas e o do sócio Carlos Rodemburg retirados da investigação que desencadeou a operação Satiagraha. Ele também desejava, de acordo com o MPF, estimular a abertura de um inquérito contra um dos seus inimigos --o empresário Luiz Roberto Demarco, ex-sócio do Opportunity. Por causa da tentativa de suborno, outras duas pessoas, que teriam agido sob o comando de Dantas, tiveram a prisão pedida. Com um dos dois corruptores, foi encontrado 1 milhão de reais. Para demonstrar boa-fé nas negociações, os dois chegaram a dar ao delegado 129 mil reais semanas antes, disse a PF, que ainda não sabe exatamente como Dantas chegou ao nome do delegado que o investigava. Esse tipo de dado é sigiloso. De acordo com o MPF, o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh pode ter atuado como elo com os Poderes Executivo e Legislativo para obter as informações para Dantas. O juiz federal Fausto Martins de Sanctis, da 6a Vara Criminal de São Paulo, rejeitou o pedido de prisão do ex-parlamentar. O MPF e a PF lamentaram o fato de a Justiça Federal ter rejeitado o pedido de busca e apreensão no escritório de Greenhalgh, disse o procurador de Grandis. LAVAGEM E INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA Todos os detidos na operação deverão ser indiciados pelos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de divisas e sonegação fiscal. Mas Nahas soma às acusações contra ele a de uso de informação privilegiada, devido a indícios de que ele tenha se aproveitado de um "megacontato" no Federal Reserve, o Banco Central norte-americano, disse a PF. "Nahas (conseguia informações) devido a um megacontato no Federal Reserve... ele se privilegia de informações", disse o delegado Queiroz, sem revelar o período que isso aconteceu, por sigilo de investigação. A PF afirmou também que "além de fraudes no mercado de capitais, baseadas principalmente no recebimento de informações privilegiadas, a organização (comandada por Nahas) atuava no mercado paralelo de moedas estrangeiras". Perguntado, o delegado da PF não respondeu se os recursos sacados pelo ex-prefeito Celso Pitta, ex-herdeiro político do deputado Paulo Maluf (SP), têm relação com os escândalos de corrupção que marcaram sua gestão na cidade, entre 1997 e 2000, e que fizeram com que seus direitos políticos fossem suspensos. (Com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier no Rio de Janeiro e Silvio Cascione em São Paulo)

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