Debate 'crescimento x austeridade' ganha força na UE

Eleições na França e na Grécia mostram descontentamento com a austeridade adotada, até agora, como única estratégia para enfrentar a crise.

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Por Marcia Bizzotto
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Vem ganhando cada vez mais força na Europa a corrente que defende o estímulo ao crescimento econômico como forma de combate à crise que mergulhou vários países do continente na recessão. Essa corrente se fortaleceu após as eleições na França e na Grécia, que trouxeram à tona o descontentamento de grande parte da população com a austeridade adotada, até agora, como única estratégia para enfrentar a crise. Em resposta, os líderes europeus se reunirão em Bruxelas no próximo dia 23 para discutir formas de promover o crescimento econômico no bloco. O objetivo dessa cúpula extraordinária é começar a desenhar um plano europeu de recuperação econômica, que seria finalizado e adotado em outra reunião, nos dias 28 e 29 de junho, se conseguir o apoio de todos os 27 países. A Alemanha, principal arquiteta do atual plano de rigor fiscal, já deixou claro que não aceitará nenhum plano de crescimento que resulte em um aumento de déficits e dívidas ou em uma espiral inflacionária. Nesta quinta-feira, a chanceler Angela Merkel rejeitou qualquer mudança no plano para combater a crise do euro e afirmou que o processo será "demorado e exaustivo". Merkel defendeu que a recuperação econômica não deve ser atingida através da tomada de novos empréstimos, o que, segundo ela, seria um "erro". Investimentos privados A ideia central dos defensores da política do crescimento é reforçar com pelo menos 10 bilhões de euros o capital do Banco Europeu de Investimentos (BEI) para financiar projetos em áreas-chave, como infraestrutura e energias renováveis, que por sua vez criariam empregos e melhorariam a competitividade dos países europeus. A Comissão Europeia (CE), órgão executivo da UE, acredita que essa injeção, associada a novos instrumentos financeiros - como títulos de dívida a nível europeu -, poderia atrair até 200 bilhões de euros em investimentos privados. Mas, para vencer as reticências alemãs, o presidente da CE, José Manuel Durão Barroso, sabe que precisa encontrar uma fórmula para reforçar o BEI sem pedir mais dinheiro aos governos nacionais. Uma das opções seria utilizar parte da dotação dos fundos de resgate da UE que não está comprometida com as ajudas à Grécia, Irlanda ou Portugal. Também se cogita financiar a operação com um novo imposto sobre as transações financeiras ou com os fundos europeus reservados para ajudar as regiões mais pobres, os chamados fundos de coesão, que ainda não foram utilizados. Catalisador francês Apesar de essas ideias não serem novas - foram propostas pela CE ao longo dos dois últimos anos -, só começaram a atrair atenção depois que o presidente eleito francês, François Hollande, resolveu incluí-las em sua campanha eleitoral. Desde então, passaram a ser abertamente respaldadas pelo governo da Itália e pelo Banco Central Europeu (BCE), além do Parlamento Europeu, onde algumas vozes isoladas já defendiam essa linha de atuação. No entanto, a maioria dos líderes europeus insiste que o novo plano de crescimento deve completar a atual estratégia de rigor fiscal e reformas estruturais e não substituí-la, como sugere Hollande. Uma de suas promessas de campanha foi renegociar o pacto fiscal europeu, que estabelece rígidos compromissos de déficit e dívida entre os 25 países signatários, uma opção descartada por todos os sócios europeus. "A crise deixou muito claro que mais disciplina e unidade são requisitos prévios para conseguir um crescimento duradouro e sustentável", afirmou Barroso em um discurso recente. "Reduzir dívidas e déficit é essencial para gerar confiança e cortar custos financeiros. Em terceiro lugar, depois das medidas de estabilidade e das reformas estruturais, devemos aumentar os investimentos em áreas pontuais", insistiu em outra ocasião. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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