Dólar alto põe fogo no balanço das empresas de papel

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Por ALBERTO ALERIGI JR.
Atualização:

A valorização de cerca de 17 por cento do dólar no trimestre passado e o cenário de incertezas econômicas causou estragos pesados nos primeiros balanços do setor de papel e celulose. Exposição a derivativos cambiais fez a Aracruz sofrer um prejuízo no trimestre que anulou o lucro de todo o ano de 2007 e a VCP passou do azul para o vermelho, afetada pelo efeito cambial sobre sua dívida em moeda estrangeira. A Aracruz teve prejuízo líquido de 1,642 bilhão de reais no terceiro trimestre e cortou em cerca de 900 milhões de dólares investimentos que estavam previstos até 2009. Em todo o ano de 2007, a companhia teve lucro líquido de 1,04 bilhão de reais. Na véspera, outra empresa do setor a cortar investimentos e divulgar prejuízo foi a Klabin, maior do segmento de papéis e embalagens. A Aracruz está envolvida em um processo de fusão com a VCP que foi suspenso diante das perdas com derivativos e do quadro de incerteza econômica. A VCP teve prejuízo de 586 milhões de reais no trimestre passado, ante lucro de 278 milhões de reais um ano antes. Entre os investimentos revistos da Aracruz está a suspensão temporária da expansão da fábrica de Guaíba, no Rio Grande do Sul, e de compra de terras e formação de florestas para a joint-venture Veracel, na Bahia, e para o terceiro complexo fabril no país a ser instalado na região de Governador Valadares (MG). A Aracruz informou despesa financeira líquida de 2,462 bilhões de reais no trimestre encerrado em setembro, contra receita de 241,9 milhões de reais um ano antes. O resultado financeiro foi impactado por operações com derivativos em que a empresa matinha posições vendidas em dólar numa taxa média de 1,76 real. Em setembro, o dólar se valorizou em 17 por cento, fechando a 1,906 real. O total de contratos de dólar futuro de tipo "target forward" da Aracruz no terceiro trimestre tinha valor justo negativo de 1,692 bilhão de reais ante 26 milhões de reais positivos no segundo trimestre. O efeito da variação cambial resultou ainda em despesa contábil de 347 milhões de reais no trimestre passado sobre a dívida da companhia, que fechou em 3,19 bilhões de reais ante 2,06 bilhões de reais um ano antes. ALÍVIO O prejuízo não foi ainda maior porque a companhia registrou um crédito tributário de 788 milhões de reais, de acordo com o balanço divulgado nesta sexta-feira. "Apesar de os fundamentos do negócio da Aracruz permanecerem sólidos... a liquidez da companhia tem sido seriamente afetada pela baixa disponibilidade de crédito e pelo aumento da percepção de risco do mercado financeiro", afirmou em comunicado o vice-presidente de finanças Valdir Roque, recentemente integrado à companhia após a saída do antecessor Isac Zagury, no mês passado. Operacionalmente, a geração de caixa ajustada --medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês)-- atingiu 323,7 milhões de reais no trimestre encerrado em setembro. No mesmo período do ano passado, o Ebitda da empresa havia sido de 394,4 milhões de reais. A margem Ebitda ajustada da empresa caiu de 45 para 40 por cento. A receita líquida somou 801,6 milhões de reais, queda de 8 por cento sobre o terceiro trimestre de 2007. Em volume, as vendas de celulose recuaram 10 por cento no período, para 679 mil toneladas. Em termos de produção, a Aracruz registrou alta de 7 por cento em celulose, para 810 mil toneladas. Às 11h01, as ações da Aracruz recuavam 4,88 por cento, cotadas a 3,51 reais. No mesmo horário, os papéis da VCP caíam 0,5 por cento e o índice Ibovespa mostrava alta de 0,99 por cento. (Edição de Renato Andrade)

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