Dólar rompe R$2,10 mas volta a cair após atuação do BC

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Por Redação
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O dólar ultrapassou o patamar de 2,10 reais na manhã desta sexta-feira, nível visto pelo mercado como um teto informal, mas reverteu o movimento e passou a cair depois que o Banco Central atuou. A intervenção do BC veio logo depois que o dólar acentuou a alta ante o real devido a declaração do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o câmbio está "numa condição razoável", mas "não ainda totalmente satisfatória". A aparente queda de braço entre Mantega e o BC deixou os investidores se perguntando se as autoridades continuarão mantendo a banda informal de 2 a 2,10 reais, na qual o dólar tem sido negociado desde o começo de julho. Às 14h16, a moeda norte-americana recuava 0,49 por cento, para 2,0882 reais na venda. Logo após as declarações do Mantega, o dólar saltou para 2,1180 reais, na máxima da sessão. "O governo está mais preocupado com a indústria ... Mas aí vem o BC preocupado com inflação e acaba tendo uma queda de braço", afirmou um operador de um grande banco nacional que prefere não ser identificado. "Mas não dá pra garantir que o BC está defendendo esse teto de 2,10 reais. Ele só atuou hoje porque a puxada para cima foi muita agressiva", completou. Recorrentes declarações de autoridades do governo têm expressado a vontade de um real mais desvalorizado para impulsionar a vacilante indústria brasileira. Além da fala do Mantega nesta sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff também sugeriu no início da semana que o real não estava desvalorizado o suficiente. Tais declarações, somadas a uma piora do quadro internacional, ajudaram a tirar o dólar de próximo a 2,02 e 2,03 reais no qual fora negociado por vários meses para perto de 2,10 reais, alimentando especulações no mercado sobre se o BC atuaria para defender o que, até então, era amplamente visto como teto. Na última vez em que o dólar atingiu esse nível no intradia, em 28 de junho, a autoridade monetária interveio por meio de swaps cambiais tradicionais --equivalentes a uma venda de dólares no mercado futuro--, num conjunto de atuações que puxaram o dólar para abaixo de 2 reais. Nesta sessão, no entanto, o dólar já abriu acima de 2,10 reais, descolado da cena externa, e somente o repique causado pela declaração de Mantega trouxe o BC de volta ao mercado, num momento que o dólar caminhava para 2,12 reais. Em um leilão de swap cambial tradicional, o BC vendeu 32.500 contratos da oferta de até 62.800 contratos, que vencem no próximo dia 3, quando expiram 62.800 contratos de swap reverso. "A alta do dólar hoje saiu do controle e não tinha fundamento, ao contrário do que o (Alexandre) Tombini disse ontem de que a alta do dólar vinha acompanhando o cenário externo. O BC vai evitar excessos no mercado", disse o economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, lembrando da declaração do presidente de BC na véspera. NOVO TETO? O mercado avalia que ainda é cedo para afirmar que houve uma mudança de patamar. O consenso é que se o dólar avançar, não poderá ser por causa de movimentos especulativos como estava ocorrendo nesta sessão, marcada por baixo volume devido ao fim de semana que emenda o feriado do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos. "O grande ponto é que essas declarações mostram que o governo quer um patamar mais alto, mas sem deixar fugir do controle", afirmou o vice-presidente de Tesouraria do Banco WestLB, Ures Folchini. "A grande questão é: será que esse é um novo teto? 2,12 reais?", questionou-se. Jankiel, do BES, acredita que a inflação está no radar no BC e que a autoridade monetária não permitirá que o dólar seja um fator de mais pressão inflacionária. "Há preocupações com inflação. Ontem já vimos o IPCA (15) pressionado. Ver uma fogueira queimando e colocar mais gasolina é transformar a situação num belíssimo incêndio", disse o economista-chefe. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) --uma prévia da inflação oficial-- subiu 0,54 por cento em novembro, acima da expectativa do mercado e ainda gerando cautela entre analistas devido ao descompasso entre atividade e consumo. Por outro lado, o fraco crescimento da indústria pesa para o outro lado. "Fechando a reta final do ano com o PIB fraco e a indústria não reagindo como se esperava, essa banda pode sim estar sendo deslocada para cima", afirmou o operador do banco brasileiro. (Reportagem de Natália Cacioli)

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