Dom Orani defende a 'dignidade humana' em 'rolezinhos'

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Por RAFAEL MORAES MOURA E DAIENE CARDOSO
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O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, recém-escolhido cardeal pelo papa Francisco, defendeu nesta quarta-feira, 22, a necessidade de promoção da dignidade humana para jovens que aderiram ao novo fenômeno social: os "rolezinhos" em shoppings. "Acho que devemos promover as pessoas para que todos possam ter aquilo que é a dignidade humana e também ter uma qualidade de vida melhor", disse Dom Orani no Palácio do Planalto, após audiência com a presidente Dilma Rousseff.Para Dom Orani, há duas questões que devem ser avaliadas nos "rolezinhos": o direito das pessoas em buscar os mesmos bens e de frequentar determinados lugares que os demais; e a violência desencadeada pela manipulação desses movimentos. O arcebispo destacou a necessidade dos jovens de "querer fazer parte" e frequentar os shoppings. "O que não podemos aprovar é quando se descamba numa violência, em depredação, tudo mais. São dois lados da questão, mas essa preocupação de promover a pessoa, de ajudá-la a viver melhor, com dignidade, deve ser constante", reforçou.O sacerdote reproduziu a preocupação dos bispos do Maranhão com a crise no sistema carcerário do Estado e ressaltou que a situação se repete em todo o País. "Acho que essa é uma questão mal resolvida em nosso País, por mais que se tenha novos presídios, novas tentativas, ainda não conseguimos fazer com que as pessoas sejam reeducadas, tenham uma maneira de convivência e possam voltar à sociedade. Infelizmente é algo ainda a ser feito", comentou.Perguntado sobre a discussão da temática religiosa em ano eleitoral, Dom Orani afirmou que a Igreja Católica procura esclarecer as pessoas sobre costumes e política para orientá-las a votar de forma consciente. "Eu creio que as pessoas que vão votar devem ver se o seu candidato traz consigo as preocupações que ele traz no coração, traz na sua mente, para o País, para o bem das pessoas, na questão tanto do desenvolvimento, quanto da qualidade de vida, quanto dos valores éticos, e dos valores sociais", disse. Sobre a liberação do aborto, tema abordado nas eleições de 2010, o novo cardeal lembrou que Dilma não se comprometeu em levar o assunto à discussão. "Isso na época já foi resolvido", desconversou.Dom Orani veio a Brasília convidar a presidente para participar do Consistório do dia 22 de fevereiro, no Vaticano, onde ele será apresentado como novo cardeal. Durante o encontro desta quarta, eles falaram sobre a importância da ampliação de parcerias sociais com a Igreja. A expectativa é que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, vá ao Consistório.Relação com a IgrejaDom Orani disse que não discutiu a dívida deixada pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ) com a presidente Dilma, mas informou que o papa Francisco enviou recentemente ajuda financeira. "Eu creio que, aos poucos, vamos concluir essa dívida, mas vai ficar outras questões para o futuro, (como) os empréstimos que foram feitos", comentou. Embora não tenham abordado a questão das dívidas, Dom Orani disse que Dilma demonstrou entusiasmo ao falar do evento, do clima pacífico que imperou no Rio de Janeiro durante a JMJ.Dentro do Planalto, a realização da Jornada Mundial da Juventude foi considerada um sucesso, servindo para reaproximar a presidente Dilma Rousseff da Igreja Católica em um momento crucial do governo, que se via confrontado com protestos nas ruas, tensões na base aliada e pessimismo na economia. Dilma não é católica praticante, mas tem a "sua referência de fé". Segundo a reportagem apurou, o gabinete presidencial tem três imagens da Nossa Senhora Aparecida.O Palácio do Planalto sabe da influência do eleitorado católico nas eleições. Pressionada, Dilma assinou durante a campanha presidencial de 2010 uma carta em que dizia ser pessoalmente contra a prática do aborto e a favor da manutenção da lei sobre o assunto. O tema voltou a assombrar o Planalto em fevereiro de 2012, quando a presidente indicou Eleonora Menicucci para a Secretaria de Políticas para as Mulheres, que havia defendido a descriminalização do aborto.

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