PUBLICIDADE

E a culpa é do clima

Que a maioria das ruas e avenidas da capital está em estado lastimável é coisa bem sabida de todos os que por elas transitam pelos mais variados meios. E a explicação, como mostra levantamento feito pelo Estado, é simples: a redução dos gastos com recapeamento, de nada menos do que 70% no governo de Fernando Haddad, em comparação com o último ano da administração de seu antecessor, Gilberto Kassab. O dinheiro que sobra para as pirotecnias no setor de transporte, com as quais Haddad procura se manter em evidência no noticiário, falta para coisas mais simples e fundamentais.

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Em termos absolutos, os gastos com recapeamento caíram de R$ 243,7 milhões em 2012 para R$ 66,1 milhões em 2013, primeiro ano do mandato de Haddad; subiram para R$ 91,3 milhões em 2014, ano da Copa; e voltaram a cair em 2015. A verba prevista para este ano é de R$ 72 milhões, dos quais foram utilizados até agora R$ 61,2 milhões, uma diferença de R$ 171,7 milhões em relação a 2012.

PUBLICIDADE

O pouco-caso não poupa nenhuma região. Ruas esburacadas ou com calombos na pista existem em toda parte. Por exemplo, em bairros centrais, como Santa Cecília e Bom Retiro, e em avenidas movimentadas como Interlagos, na zona sul, e Celso Garcia, na zona leste. Essa situação dificilmente mudará a curto prazo, tendo em vista tanto o atraso acumulado como o baixo investimento programado. Neste ano, até outubro, foram recapeadas apenas 28 vias. Não por acaso, dados sobre essas obras – como metragem linear e metragem quadrada – deixaram de ser publicados na internet, o que torna mais difícil de acompanhar o pífio desempenho do atual governo nesse setor.

Haddad não perde a pose e promete, é claro, mais recursos para o recapeamento – R$ 60 milhões que começarão a ser liberados ainda este ano. Só não explica que esses recursos, se saírem, terão de vir do remanejamento de verbas de outros setores, já que as destinadas ao recapeamento pelo orçamento de 2015 estão quase esgotadas. O que parece provável é que em 2016 o setor ganhe mesmo mais recursos. O prefeito fala em R$ 180 milhões, quantia que, embora ainda bem menor que os R$ 243,7 milhões do último ano de Kassab, representa um bom avanço em relação à penúria de 2015, de apenas R$ 72 milhões.

É que no ano que vem tem eleições e Haddad tentará um segundo mandato. Ele certamente tentará enganar os incautos para angariar votos, da mesma maneira que em 2014, ano da Copa, aumentou um pouco as verbas para fazer bonito. Recapeou as Marginais, as Avenidas São João e Rebouças, além do Minhocão. Mas não foi muito além disso.

Sofrem com as ruas e avenidas esburacadas não só os carros, que ele e seu secretário de Transportes, Jilmar Tatto, fazem questão de tratar com desprezo, embora sejam responsáveis por um terço dos deslocamentos da capital. Sofrem também os ônibus, um dos principais meios de transporte coletivo que eles dizem privilegiar. Além disso, vias mal cuidadas são um dos fatores que levam ao aumento de acidentes de trânsito.

A explicação de Haddad para a profusão de buracos dá a impressão de que, das duas uma: ou ele perdeu a censura ou aderiu ao cinismo. A que o bravo prefeito atribui o desgaste do pavimento das ruas e avenidas? Às “intempéries climáticas”. Segundo ele, “tem muita chuva e muito sol em São Paulo, e isso dificulta”. Só faltava essa. Ou melhor, só falta ele propor a mudança da cidade para uma região de clima menos hostil, com menos chuva e menos sol. Um dia, quem sabe, ele chega lá.

Fica entendido o seguinte: a “revolução” nos transportes que Haddad e seu fiel escudeiro Tatto dizem, sem corar, estar fazendo em São Paulo tem três pilares. Um são as ciclovias, por enquanto bem cuidadas, mas vazias; outro são as faixas exclusivas para ônibus, ambas implantadas às brutas e de utilidade duvidosa; e o terceiro – que ninguém é de ferro para trabalhar tanto – são as ruas esburacadas. Haja paciência.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.