É tempo da ecológica safra de juta

Cultivada por ribeirinhos no Amazonas, a fibra vegetal é utilizada[br]sobretudo na fabricação de sacarias e sacolas

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Por Niza Souza
Atualização:

A colheita de juta e malva, fibras vegetais usadas para confecção de fios, sacos e telas, terminou este mês. A produção da fibra, cultivada em regiões ribeirinhas no Baixo Amazonas, deve chegar a 14 mil toneladas nesta safra. Mas o setor, que já chegou a produzir quase 100 mil toneladas em 1981, espera retomar pelo menos parte do potencial nos próximos anos, em função do aumento da demanda, sobretudo por causa de seu apelo ecológico. O mercado de café sempre foi o termômetro para a indústria de sacaria de juta no Brasil, ainda mais depois que os produtos feitos à base da fibra natural perderam espaço para o plástico. A fibra mantém a umidade natural do grão, por isso o mercado exige que o café seja embalado em juta. Mas a preocupação cada vez maior, no mundo, com a preservação e conservação do meio ambiente está abrindo um novo mercado para os produtos à base da fibra: as sacolas de juta. CULTURA SOCIAL Além de ser uma fibra biodegradável, a juta é uma das principais atividades econômicas nas comunidades ribeirinhas no Baixo Amazonas e ajuda a manter mais de 10 mil famílias na zona rural, ou 50 mil pessoas. ''Chegamos a ter 27 empresas envolvidas no processo de industrialização de juta e malva, mas o plástico e outras tecnologias foram tomando o mercado e hoje há apenas três empresas no setor'', explica o agrônomo Arlindo de Oliveira Leão, secretário-executivo do Instituto de Fomento à Produção de Fibras Vegetais da Amazônia (Ifibram). A instituição, sem fins lucrativos, foi fundada em 1974 pelas empresas do setor para auxiliar na pesquisa e é responsável pela produção e distribuição das sementes da fibra. Com a recuperação de alguns mercados, o agrônomo acredita que a produção deve aumentar. ''Incentivamos os produtores a ampliar a área plantada e investir na produção de sementes'', diz. ''A sacola de juta retornável já está ganhando espaço e tem grande potencial.'' Mesmo com poucas empresas, a demanda é maior do que a oferta e o setor importa fibra. Hoje, 40% da produção vai para a confecção de sacos de café; 25% para sacos de batata; 10% para sacaria de amendoim, cacau, castanha, fumo e minério; 15% para telas; 7% são fios (usados em molduras, tapetes, gesso e tecelagem) e 3% outros produtos (que incluem as sacolas). A meta da indústria é aumentar a produção, já em 2009, de 10% a 15%, em função das sacolas de juta. ''No ano passado importamos 30% e, este ano, como a produção deve ser um pouco melhor, vamos importar em torno de 20% da matéria-prima'', diz o empresário Oscar Borges, presidente da Companhia Têxtil Castanhal (CTC), responsável por 60% da produção do setor. ''Nossa luta é pela produção de semente, que impede o crescimento do setor. Por isso estamos desenvolvendo um projeto e vamos tentar aumentar a área plantada de sementes'', diz Borges. Ao contrário do cultivo da fibra, que é feito nas várzeas dos rios no Amazonas, a produção de sementes é em terra firme, em Belém (PA), onde fica o Ifibram. ''O produtor de semente segue uma metodologia totalmente diferente do produtor de fibra'', explica Leão. ''O espaçamento para semente é maior, para a planta ramificar, pois a semente está nos ramos.'' Para garantir a produção de sementes, o Ifibram faz parcerias com agricultores paraenses, que recebem assistência técnica e depois vendem toda a produção para o Ifibram. ''A semente de juta e malva é uma atividade complementar. Damos assistência, acompanhamos todos os produtores e depois beneficiamos a semente'', diz Leão. O Ifibram é registrado no Ministério da Agricultura como produtor de semente de juta e malva. O interesse de compradores internacionais por sacolas biodegradáveis também anima o setor. No mês passado, a CTC exportou 200 mil sacolinhas de juta para a rede italiana Yamamay, que está substituindo as sacolas de plástico. Esse novo mercado surgiu justamente pelo apelo ecológico da fibra. Todo o processo, da produção ao descarte do produto final, é ambientalmente correto. Como o plantio é feito na várzea, o produtor não usa adubo nem agrotóxicos. Na indústria, os processos de fabricação (amaciamento, limpeza, lubrificação e engomamento) usam produtos de origem vegetal. Até a pintura dos sacos leva tinta à base de água. ''Podemos dizer que é um processo limpo'', afirma o gerente da unidade Castanhal da CTC, Brenno Pacheco Borges Neto. A repórter viajou a convite da CTC

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