Economia continuará na corda bamba

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Por Sergio Vale
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Artigo publicado originalmente no Estadão Noite Em economia, momentos catárticos como os de março não tendem a gerar os piores efeitos negativos no próprio momento em que ocorrem. Usualmente, os maiores impactos vão surgindo nos meses seguintes, com os dados de atividade e emprego derretendo. Um pouco disso é o cenário que temos visto desde o começo do ano. Os três primeiros meses foram assombrosos na falta de qualidade política da atual administração, levando ao cenário de crise em março. O resultado do PIB em queda de 1,6% que foi divulgado hoje daria a entender que o pior já tenha passado e esse resultado resumiria isso. Infelizmente, o ajuste na economia ainda será longo. Estamos apenas começando a ter uma política fiscal mais restritiva. O superávit primário ainda negativo de quase 0,8% do PIB em 12 meses mostra o longo caminho de corte de gastos que teremos. Não terá como parar no contingenciamento de R$ 69,9 bilhões anunciados. Será preciso mais, o que vai tirar demanda a mais a partir do próximo semestre.  A política monetária sinaliza que terá mais duas elevações de juros, chegando a 14%, com impactos relevantes na economia que vão além do semestre que vem. O Banco Central resolveu de repente ser mais crível e o preço a pagar por isso é um custo de crédito mais elevado. Ao mesmo tempo em que o governo se esforça a fazer um ajuste quando lhe falta o apoio político, só nos resta pensar que a duração do esforço também será igualmente preocupante. Não será apenas para 2015, talvez nem para 2016, mas fica evidente que viveremos em perigo todo o segundo mandato, com riscos de não continuidade no ajuste iniciado neste ano. Talvez o governo não queira pagar o preço de tal esforço e isso custará mais atritos com o ministro. Hoje ele está evidentemente isolado. O pensamento econômico do triunvirato Dilma, Mercadante e Barbosa é o extremo oposto do que deseja Levy. Ao mesmo tempo, se Levy ceder demais perderá credibilidade e levará a mais dificuldades de qualquer jeito. Vivemos, assim, na corda bamba econômica. Para o investimento, isso é mortal e seguirá sendo empecilho para seu aumento nos próximos anos. Até porque há muita capacidade ociosa a ser aproveitada, especialmente em setores-chave como o automobilístico. Sendo assim, vamos nos acostumar a continuar recebendo informações ruins da economia por um bom tempo. Este ano o PIB deve cair 1,5% e a pior notícia que poderia ter é que talvez tenhamos números negativos novamente em 2016. Já estamos praticamente em junho, com um processo de deterioração que ainda se aprofunda. Imaginar que haverá recuperação no ano que vem é difícil. Estamos com uma leve queda de 0,1%, o que nos levará a ter três anos seguidos de números muito ruins na economia, algo que não se via desde o período Collor. * Sergio Vale é economista-chefe da MB Associados

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