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Ecumenismo marca viagem do papa

Diálogo com judeus, muçulmanos e luteranos alemães foi a tônica da visita, que termina hoje, do católico Bento XVI ao seu país de origem

Por José Maria Mayrink
Atualização:

Declarações políticas à parte, como apelos em favor da justiça e da paz feitos no Parlamento alemão, foram o ecumenismo e o diálogo religioso que marcaram a visita de Bento XVI à Alemanha - a terceira à sua pátria, em um total de 21 viagens internacionais, em seis anos e meio de pontificado.O encontro com representantes da comunidade judaica em Berlim na quinta e a visita ao antigo Mosteiro dos Agostinianos, atualmente luterano, em Erfurt, na manhã de anteontem, foram emocionantes para o papa, pelo significado que os locais e os personagens envolvidos têm.Aos 84 anos, 30 vividos no Vaticano, Bento XVI voltou à sua terra como se nunca se tivesse afastado dela. "Nasci na Alemanha e essa raiz não deve ser cortada", advertiu, no voo Roma-Berlim.Na reunião com líderes da comunidade judaica, Bento XVI falou do patrimônio de fé comum entre judeus e católicos e reiterou o respeito da Igreja a Israel, para em seguida lembrar a tragédia do Holocausto. Ratzinger observou que o encontro se realizava no Reichtag, "num lugar central da memória, de uma memória pavorosa, porque a partir daqui foi projetada e organizada a Shoah, a eliminação dos judeus na Europa." "O onipotente Adolf Hitler era um ídolo pagão que queria se colocar como substituto do Deus bíblico", continuou, ao falar da responsabilidade do regime nazista no extermínio de 6 milhões de judeus. Pouco mais de 65 anos após o fim da Segunda Guerra, a Alemanha tem cerca de 105 mil judeus.Na manhã de anteontem, o papa se reuniu com muçulmanos, cuja comunidade tem no país perto de 4,5 milhões de membros, 70% de origem turca. Fez um apelo à convivência harmoniosa entre alemães e essa comunidade, lembrando a tradição religiosa dos seguidores do Islã e sua capacidade de trabalhar com cristãos pelo bem comum.O ecumenismo, pelo qual cristãos se entendem em questões básicas da fé, levou Bento XVI ao Augustinerkloster, o mosteiro dos monges agostinianos onde Martinho Lutero morou, antes de pregar a Reforma que levou ao surgimento de uma Igreja evangélica separada de Roma.Ao se reunir com bispos e pastores luteranos e participar com eles de uma celebração paralitúrgica na capela da comunidade, Bento XVI advertiu que católicos e evangélicos devem se preocupar mais com aquilo que os une do que com o que os separa. "A questão de Deus foi a paixão profunda e o centro da vida e do caminho do monge alemão", disse Ratzinger, após expressar sua emoção por se encontrar no lugar em que Lutero estudou teologia e foi ordenado sacerdote.Consciente de que santo de casa não faz milagre, Bento XVI não se irritou com manifestações de protesto, a começar pela ausência de cerca de cem parlamentares de esquerda que deixaram as cadeiras vazias durante o discurso que fez no Parlamento. "É normal que em uma sociedade livre e num tempo secularizado haja quem se oponha a uma visita do papa", observou.Se o diálogo religioso era o objetivo primeiro da viagem, os resultados compensaram.

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