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Em casa, brasileiro come pouca fruta e verdura

Além disso, consumo de açúcar ultrapassa o recomendado, diz pesquisa do IBGE; arroz e feijão estão em declínio

Por Clarissa Thomé
Atualização:

O brasileiro está comendo mal em casa. Frutas e verduras, que deveriam corresponder de 9% a 12% das calorias diárias, representam 2,8%. Açúcares livres equivalem a 16,4% das calorias, quando a recomendação é de 10%. Os alimentos essencialmente calóricos (óleos e gorduras vegetais, gordura animal, açúcar de mesa e refrigerantes) atingem 28% das calorias consumidas. Entre os 20% mais ricos, o consumo desses alimentos ultrapassa a proporção recomendada, de 30%, chegando a 31,8%. Os dados estão no levantamento Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de Alimentos no Brasil, feito com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008/2009. Para chegar a essas informações, os técnicos do IBGE analisaram os alimentos nas residências, divulgados na pesquisa Aquisição Alimentar Domiciliar Per Capita. "Está mal preparado o cardápio dos brasileiros", resume o gerente da POF, Edilson Silva. "Há uma interferência na disponibilidade e preço dos produtos - frutas e legumes são normalmente alimentos de difícil acesso e o preço interfere." Ele ressaltou que a pesquisa demonstra que o consumo de proteína é satisfatório - 12,1% das calorias disponíveis diariamente, quando o ideal é entre 10% e 15%. "Faltando educação alimentar, uma política para ensinar o cidadão a consumir mais legumes, mais frutas." Ana Beatriz Vasconcellos, coordenadora geral da Política de Alimento e Nutrição do Ministério da Saúde, disse que esse esforço deve incluir o setor produtivo. "É preciso garantir oferta melhor: aumentar o crédito para que produtores façam com que suas frutas, verduras e legumes possam ser distribuídas em todas as regiões. E a melhoria da qualidade dos alimentos industrializados: redução da gordura, do sódio, do açúcar." No período avaliado - maio de 2008 a maio de 2009 -, a disponibilidade média per capita de alimentos foi de 1.611 calorias. Na pesquisa anterior, era de 1.791. A diferença pode ser atribuída aos alimentos consumidos fora de casa. Comparando-se os resultados com os da POF anterior, de 2002/2003, a despesa com alimentação em casa caiu de 75,9% dos gastos mensais para 68,9%. O levantamento mostra que o teor de ácidos graxos saturados, cujo consumo está associado a doenças cardiovasculares e diabete, está próximo do limite de 10% das calorias na faixa de renda que vai de R$ 2.491 a R$ 4.150 (9,1%) e de R$ 4.150 a R$ 6.225 (9,5%). A faixa de renda mais alta, acima de R$ 6.225, já ultrapassou o limite recomendado - chega a 10,6%. A nova POF mostra o aumento da participação no total de calorias de alimentos como pão francês (aumento de 13%), biscoito (10%), queijos (16%), refrigerantes (16%), bebidas alcoólicas (28%) e refeições prontas e misturas industrializadas (40%). Tiveram menor presença arroz (queda de 6%), feijões (18%), farinha de trigo (25%), leite (10%) e açúcar (8%). Arroz e feijão em queda. O feijão com arroz não é mais o prato-símbolo do cardápio brasileiro. De 1975 para 2009, a compra desses itens caiu drasticamente. O arroz polido perdeu 60% na quantidade anual per capita adquirida - de 31,6 quilos para 12,6 quilos. A do feijão passou de 14,7 quilos anuais para 7,4 quilos (redução de 49%).

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