Em qualquer processo eleitoral, os principais candidatos costumam monopolizar o noticiário por semanas. Não no caso hondurenho. Na sexta-feira, por exemplo, não havia uma só matéria de peso no jornal El Heraldo, o principal do país, dedicada ao candidato favorito, Porfirio "Pepe" Lobo, do Partido Nacional, que tem 37% das intenções de votos nas eleições de hoje, ou ao segundo colocado nas pesquisas, Elvin Santos, do Partido Liberal, que tem 21%. Mesmo nas ruas, havia poucos cartazes políticos ou mensagens nos muros pedindo votos para os candidatos. O embate era entre chamados como "seu voto conta" e "todos às urnas", do governo de facto, e o "não votem", do governo deposto. Com a eleição, uma nova figura política deverá emergir e roubar a influência dos que hoje são os donos da atenção da mídia local e internacional - o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e o presidente de facto, Roberto Micheletti. "Sou de oposição. Não me importa Zelaya ou Micheletti - quero tirar os dois daí", afirmou Lobo, numa entrevista à imprensa internacional na qual disse que, se vencer a votação, tentará se aproximar do governo brasileiro. "Quero que a situação em Honduras volte à normalidade."INTERESSE ESCASSOÉ justamente a situação de anormalidade, segundo analistas, que faz com que o interesse pelas propostas de governo seja escasso. Antes de tudo, a população quer resolver a crise aprofundada pelas sanções decretadas pela comunidade internacional após o golpe - daí o apoio de 80% para a votação. Honduras recebia cerca de US$ 1 bilhão por ano em empréstimos estrangeiros, ajuda humanitária e combustível subsidiado da Venezuela, o equivalente a cerca de 20% do orçamento nacional. Desde junho, isso foi cortado.O vencedor da votação terá o desafio de, primeiro, conseguir um voto de confiança da comunidade internacional e a retomada desse fluxo de recursos. Depois, pacificar o ambiente político hondurenho. Só então poderá finalmente governar com tranquilidade o segundo país mais pobre da região, com um desemprego de quase 30% e uma criminalidade endêmica (a taxa de homicídios é mais que o dobro da brasileira). Em seus comícios, Lobo não tem apresentado uma proposta muito diferente dos demais candidatos - em geral, projetos para reduzir a criminalidade e promessas de mais emprego. Ele moderou o discurso, ao contrário da campanha de 2005, perdida para Zelaya, na qual pedia até pena de morte para criminosos. Agora, fala em "diálogo nacional".