Em dia de más notícias, Obama sugere novo pacote

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Por DANIEL TROTTA
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O presidente-eleito Barack Obama defendeu na sexta-feira a urgente aprovação de um novo pacote de estímulo econômico, num dia em que foram anunciados prejuízos bilionários para os fabricantes de automóveis e a mais alta taxa de desemprego nos Estados Unidos dos últimos 14 anos. Dirigentes da União Européia se reuniram em Bruxelas, preparando-se para a cúpula do G20 no dia 15 em Washington. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse haver consenso em torno de um plano agressivo para reformar o sistema financeiro global. Obama falou a jornalistas, na sua primeira entrevista coletiva desde a eleição, depois de se reunir com consultores econômicos em Chicago. Economistas prevêem que ele tomará posse, no dia 20 de janeiro, sob forte recessão. O país vive sua pior crise econômica desde a Grande Depressão, na década de 1930. "Ao convocar esta coletiva ele está passando um forte recado de que está preparado para o trabalho", disse Greg Salvaggio, operador-sênior de câmbio na consultoria Tempus, de Washington. "Ele está demonstrando que estará pronto para já sair correndo." A taxa de desemprego atingiu em outubro 6,5 por cento, maior nível desde março de 1994, segundo dados do Departamento do Trabalho. Cerca de 240 mil vagas foram fechadas no mês -- o total no ano já soma 1,2 milhão de vagas perdidas. "Quero ver um pacote de estímulo o quanto antes. Se não ocorrer na sessão 'pato manco' (apelido para o Congresso e o governo em fim de mandatos), será a primeira coisa que eu farei como presidente dos Estados Unidos", disse Obama. Obama também pediu que seu antecessor, George W. Bush, colabore com o Congresso na liberação de ajuda para o setor automobilístico, que solicita 50 bilhões de dólares em empréstimos de emergência, sob o risco de que mais de 2 milhões de empregos sejam perdidos. A Ford e a GM juntas queimaram cerca de 14,6 bilhões de dólares no terceiro trimestre, enquanto somaram 7,2 bilhões de dólares em prejuízos operacionais. As ações da GM despencaram mais de 16 por cento, e as da Ford caíram 7 por cento, antes de se recuperarem. A GM fechou em baixa de 9 por cento, e a Ford subiu 2 por cento, com ações cotadas a 2,02 dólares. O mercado como um todo se recuperou de uma perda de 10 por cento nos últimos dois dias. Os índices Dow Jones e S&P 500 fecharam em alta de 2,9 por cento, já que a cifra do desemprego, embora ruim, não foi tão desastrosa quanto o mercado antevia. "Já que tivemos tanta fraqueza nos últimos dois dias, (a situação) é simplesmente: 'Ok, sabíamos que seria ruim, mas não foi significativamente pior", disse Kurt Brunner, gerente de investimentos do Swarthmore Group, de Filadélfia. Também contribuiu com o mercado o corte de juros anunciado na véspera pelos bancos centrais da Inglaterra e da União Européia. "Pode-se suspeitar, com o corte coordenado das taxas que vimos, que no mínimo o alívio na distorções globais (dos juros) vai continuar", disse Brunner. OLHOS SOBRE OBAMA Obama não anunciou na sexta-feira quem será o seu secretário do Tesouro, responsável por administrar o programa de 700 bilhões de dólares para a compra de dívidas "podres" e recapitalização do sistema bancário. Uma fonte do atual Departamento do Tesouro disse que, enquanto Bush governar, as autoridades vão considerar todas as opções para o plano de resgate, o que inclui ampliá-lo para áreas do setor financeiro além dos bancos tradicionais. O administrador do programa, Neel Kashkari, disse que ele já levou algum alívio aos mercados de crédito, mas que a situação permanece vulnerável e que há muito trabalho a ser feito. A Libor (taxa básica interbancária do mercado londrino) caiu pelo 20. dia consecutivo, e a taxa para três meses atingiu seu menor valor desde maio de 2004, enquanto a taxa para 24 horas caiu ao menor nível desde fevereiro de 2004. Governos de todo o mundo já injetaram trilhões de dólares para salvar instituições financeiras afetadas pelas dívidas impagáveis das hipotecas habitacionais dos EUA, que se espalharam por todo o sistema por causa dos contratos lastreados em dívidas habitacionais e outros negócios de alto risco. "Queremos mudar as regras do jogo no mundo financeiro," disse Sarkozy, acrescentando que os líderes da UE são favoráveis a um plano de cinco pontos apresentado por Paris. Esse plano inclui o fortalecimento do FMI, maior vigilância sobre as agências de cotação de crédito e limites para transações de risco. Os Bancos Centrais pararam de se preocupar com a inflação e estão reduzindo os custos dos empréstimos para tentar evitar que a crise financeira global se transforme em uma recessão planetária profunda. A Coréia do Sul reduziu as taxas de juros em 25 pontos básicos, terceira queda em um mês, seguindo a tendência vista na véspera na Europa. (Reportagem das redações da Reuters em todo o mundo)

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