
22 de abril de 2010 | 12h27
Artesanal. Filtro usado para fazer a bebida fermentada umqombothi
A má fama que Johannesburgo ganhou por seus altos índices de violência faz com que muitos turistas a evitem, mas a maior cidade sul-africana oferece atrações gastronômicas que justificam sua presença em qualquer roteiro de viagem pelo país.
Além da ampla variedade de restaurantes representantes das grandes cozinhas internacionais, Jo’burg - ou ainda Jozie ou Janiceburg, como é chamada por seus moradores - tem a culinária marcada também pela diferença entre a comida nos bairros brancos (mais ricos) e nos bairros negros, reflexo de um período ainda não plenamente superado.
No mesmo dia pode-se almoçar linguiça com pap (leia abaixo sobre esta instituição da África Subsaariana) em Soweto, o bairro símbolo da resistência contra o apartheid, e jantar antílope com chutney de damasco num restaurante em Melrose Arch, enorme shopping a céu aberto cercado por seguranças armados até os dentes. A experiência gustativa valerá tanto quanto uma aula sobre a história recente.
Veja também:
Prateleiras com muita cor e sabor
À mesa, ingredientes e raças se encontram
Française, avec kudu e chakalala
Enclaves de restaurantes
Bom programa é visitar pelos arborizados e extensos bairros de Melville, Parkhurst, Greenside e Norwood, erguidos entre os anos 60 e 70 para abrigar a elite de Johannesburgo. Ali, pode-se caminhar e escolher entre cafés, bares e restaurantes. Há boa oferta de italianos, franceses, asiáticos e portugueses - muitos são de famílias que fugiram de Angola e Moçambique às vésperas da independência das ex-colônias portuguesas, em 1975. Grande parte dos restaurantes, no entanto, mescla influências de mais de uma cozinha ou produz receitas contemporâneas e internacionais, sem fronteiras.
O Lucky Bean, em Melville, é um desses. Quer uma dica do que comer na entrada? Rolinhos primavera de avestruz com redução de amora e balsâmico. Ou salada verde com biltong (carne servida fria e em tiras). Entre os principais, o kingklip grelhado (peixe da costa oriental do Atlântico) com purê de alcaparras e mostarda compete com risotos e pratos vegetarianos.
Se a ideia é provar a comida "tipicamente africana" moldada a paladares ocidentais, sem abrir mão do conforto, vá conhecer o restaurante Moyo, que tem filiais no Zoo Lake ou no Melrose Arch.
O clima ali é bastante turístico, com garçonetes negras que passam de mesa em mesa cantando e pintando os rostos dos clientes. Mas o cardápio tem pratos que valem a pena e revelam esforço para criar usando como base receitas tradicionais e ingredientes de várias regiões da África.
Quer exemplos? Sopa de camarão e amendoim (comum na Nigéria). Ou carne com pimenta, abacate e molho de iogurte, servida sobre um pão sem fermento (prato inspirado em uma receita etíope).
Em alguns casos, o resultado é bom, como o cheesecake de abóbora ou as samosas, célebres pasteizinhos trazidos ao país por indianos, indonésios e malaios. Em outros, nem tanto. Mas a grande popularidade da rede indica que os restaurantes que oferecem sabores de outras partes da África estão em alta.
PARA ENTENDER
Onde o conflito começou
Johannesburgo atraiu multidões no fim do século 19 após a descoberta de ouro em seu território, especialmente sul-africanos de outras regiões e europeus.
As disputas pelo controle de terras se acirraram, e os dois grupos dominantes entraram em conflito: os ingleses e os africâneres - descendentes de holandeses, alemães e franceses huguenotes que migraram para a África do Sul entre os séculos 17 e 19.
Os ingleses acabaram se impondo, mas a tensão prosseguiria até o século seguinte, com a maioria negra, duramente discriminada e confinada em guetos periféricos pelo apartheid, tentando se libertar da dominação branca.
Com o fim do apartheid (1949- 1990), caíram as leis segregacionistas. Isso possibilitou a formação de uma elite negra - que, entretanto, representa apenas 1% da população negra.
Assim, mesmo derrubadas no papel, as diferenças entre negros e brancos, elas ainda se notam no país, especialmente em Johannesburgo.
ONDE FICAM
Moyo
Unidade Melrose Arch
Shop 5 The High Street, Joanesburgo
00/xx/27/11/684-1477
Unidade em Zoo Lake
1 Prince of Wales Drive
Parkview, Johannesburg
00/xx/27/11/646-0058
Lucky Bean
16, 7th Street, Johanesburgo 2092
00/xx/27/11/482-5572
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