Em ratos, nicotina corta a bebedeira, mas não a ressaca

Estudo mostra que o consumo da nicotina em conjunto com o álcool diminui o efeito da bebida em ratos adultos

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Por Agencia Estado
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Um novo estudo ajuda a explicar por que os fumantes tendem a beber mais quando saem do que os não-fumantes. O trabalho, feito em ratos, mostra que um grande dose de nicotina pode cortar os níveis de álcool no sangue pela metade. Se os cigarros diminuem a intoxicação da mesma maneira em humanos, isso poderia significar que os fumantes precisam beber mais que os não-fumantes para chegar ao mesmo "barato". Muitos estudos mostraram que os fumantes tendem a consumir mais álcool que os não-fumantes, e uma série de razões foi proposta para isto. As pessoas que se acostumam a um hábito podem ser simplesmente mais inclinadas a se acostumarem a outro, e socialmente ambos os hábitos tendem a andar juntos, em bares e festas. Os pesquisadores também sabem que tanto a nicotina quanto o álcool ativam uma liberação da dopamina, componente químico cerebral responsável pela sensação de bem-estar, mas a adaptação a um dos hábitos pode gerar uma tolerância às drogas e reduzir essa sensação prazerosa. Assim, os usuários de grandes quantidades de uma substância podem aumentar o consumo da outra para ajudar a aumentar, novamente, o nível de dopamina. A pesquisa sugere que a nicotina também altera diretamente a potência do álcool no corpo. Para estudar melhor o efeito, Wei-Jung Chen da Universidade A&M no Texas e seus colegas analisaram os efeitos da bebedeira em ratos adultos. Eles injetaram os estômagos dos ratos com um dose de álcool quase equivalente a cerca de quatro ou cinco drinques em sucessão rápida; o suficiente para fazer com que o nível de álcool no sangue alcançasse o dobro do limite legal para se dirigir nos Estados Unidos, que é de 0,08%. A equipe também deu aos animais uma série de doses de nicotina, similar àquelas no corpo de fumantes pesados, moderados e leves. Nos animais "fumantes pesados", a nicotina cortou o pico do nível de álcool no sangue, que veio cerca de uma hora depois da injeção, pela metade. O álcool no sangue dos animais "fumantes moderados" caiu cerca de 30%, e os animais imitando os fumantes leves não foram afetados. Os resultados foram reportados na revista Alcoholism: Clinical & Experimental Research. Um nível mais baixo de álcool no sangue significa menos intoxicação: os ratos que receberam nicotina ficaram menos bêbados que seus colegas. Mas Chen nota que o fumo não combate os outros efeitos do álcool ou evita ressaca, pois os subprodutos tóxicos da quebra do álcool ainda continuam no corpo. Chen acredita que a nicotina desacelera o esvaziamento do estômago. Assim, mais álcool é quebrado e menos vai para o intestino, da onde cai na corrente sanguínea. Para dar apoio a essa idéia, a equipe do cientista descobriu que a nicotina não afeta o álcool no sangue se o álcool for injetado diretamente no abdômen, evitando o estômago e indo direto para a corrente sanguínea. Os pesquisadores ainda não mostraram que a mesma coisa acontece nos humanos, mas "agora sabemos que pode ser um fator", disse Chen.

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