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Empréstimo abre polêmica sobre caixa da Petrobras

Por FERNANDO EXMAN E DENISE LUNA
Atualização:

Um alerta soou no mercado em relação à Petrobras nesta quinta-feira, depois de um empréstimo em outubro junto à Caixa Econômica Federal de 2 bilhões de reais para capital de giro ter vindo à tona pelas mãos da oposição ao governo e após o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmar que a empresa passou por dificuldades financeiras "momentâneas" que levaram ao empréstimo. "A Petrobras está como sempre esteve", assegurou Lobão em entrevista a jornalistas. "Ela teve dificuldades momentâneas em razão de impostos imprevistos, mas é uma situação que se estabelece no passo seguinte." Lobão evitou responder se o fato de o empréstimo ter sido feito por um banco público demonstra que a empresa não consegue financiamentos com bancos privados. "Por que não a Caixa?", indagou. As ações da estatal permaneceram no terreno negativo durante todo o dia, caindo mais que o índice da bolsa, com a colaboração também da queda do petróleo. Analistas observaram que apesar do empréstimo ser considerado normal, gerou incerteza o fato da empresa ter utilizado os recursos para capital de giro. "Se ela (Petrobras) não trabalhar bem vai ter novamente problema de caixa, ainda mais com o petróleo ao preço que está", avaliou o analista do Banco do Brasil Investimentos, Nelson Matos. Ele levantou preocupação principalmente com o plano de negócios da companhia, previsto para ser divulgado em dezembro. Matos prevê que as refinarias anunciadas, mas ainda sem obras iniciadas, deverão ser adiadas. "O plano anterior (de 112,4 bilhões de dólares) previa mais de 80 por cento de capital próprio para os investimentos e o restante no mercado. Ela vai ter um desafio aí", observou. "O jeito vai ser reduzir investimentos, porque hoje não existe mais janelas de empréstimo", disse Matos. A falta de confirmação ou de detalhes sobre o empréstimo ao longo do dia desagradou especialistas que acompanham a empresa, muito mais do que o empréstimo propriamente dito, na avaliação do analista do Unibanco Vladimir Pinto. "É mais uma discussão política do que efetivamente um problema sério", acrescentou, sobre a polêmica que se criou em torno da operação com a CEF. O analista admitiu, no entanto, que a queda das ações da estatal nesta quinta-feira pode ter uma ajuda da discussão. "A Petrobras não deu muita informação sobre o empréstimo, ficou vago...é uma incerteza que pode ajudar (a desvalorizar as ações), mas quando você olha as ações (ligadas) a outras commodities vê que está tudo fraco também...", avaliou. Para o analista Adriano Pires, o empréstimo mostrou que a Petrobras tem problemas de caixa e que não estava preparada para um ambiente de petróleo a 50 dólares o barril. "No terceiro trimestre quase não geraram caixa e o barril ainda estava no patamar de 100 dólares, imagina o quarto trimestre como vai ser", ressaltou. Em defesa da empresa, além do ministro Lobão, a minsitra Dilma Rousseff disse no Rio que a empresa não está descapitalizada e a operação de empréstimo "foi absolutamente normal". A Petrobras enviou nota na qual não fala sobre o empréstimo mas admite que a crise leva a empresa a buscar cada vez mais o mercado interno. Uma assessora da companhia destacou que desde o balanço do terceiro trimestre já havia percepção sobre a situação do caixa, apesar do lucro recorde. "Houve problemas que afetaram a geração de caixa e isto está claro no balanço, problemas em relaçao a câmbio, a pagamento de participações especiais feitos com base no pico do preço do petróleo", explicou a assessora. Já em Brasília, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado decidiu realizar audiência pública, ainda não agendada, sobre o assunto. O senador Artur Virgílio, líder do PSDB, divulgou detalhes da operação de empréstimo e afirmou que vai convocar o presidente da Petrobras, entre outros, para prestar esclarecimento. Segundo Virgílio, o empréstimo teria prazo de 180 dias e taxa de juros de 104 por cento do CDI over. (Com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier)

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