ENTREVISTA-Após pior mês em anos, setor de carne vê recuperação

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Por ROBERTO SAMORA
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Os exportadores de carne bovina do Brasil amargaram em janeiro o pior resultado mensal em vários anos, com o setor aparecendo como um dos mais afetados pela crise de crédito entre os que compõem o agronegócio. Mas a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) vê indícios de uma recuperação dos embarques. O diretor-executivo da Abiec, Otávio Cançado, explicou que os frigoríficos de bovinos, em especial, utilizam bastante os ACCs (Adiantamento sobre Contrato de Câmbio) como capital de giro em suas operações. Com a crise, o financiamento via ACC continua muito mais caro e seletivo. "Falta crédito para financiar a exportação e também falta crédito para o importador", disse ele à Reuters, lembrando que também no exterior os compradores enfrentam dificuldades para financiar seus negócios. As exportações de carne bovina in natura do Brasil, o maior exportador mundial, caíram em janeiro 38 por cento em volumes, para 56,6 mil toneladas, na comparação com o mesmo mês do ano passado, e em receita despencaram 54 por cento, para 168 milhões de dólares. Esse volume mensal exportado de carne in natura em janeiro foi o mais baixo desde agosto de 2005, pelo menos, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior obtidos pela Reuters. A associação não forneceu comparações para além dessa data. Já os embarques de carne industrializada, segundo a Abiec, caíram em janeiro 30 por cento, para 13 mil toneladas, e em valores tiveram redução de 21 por cento, para 54,7 milhões de dólares. Esses valores contrastam fortemente com o resultado obtido há apenas alguns meses, antes de a crise se refletir efetivamente nos embarques. Em outubro de 2008, a Abiec registrou um recorde de exportações de 549 milhões de dólares (in natura e industrializada somadas). A queda drástica nas exportações em relação aos melhores meses de 2008 pode ser explicada também por outras questões. Segundo o diretor-executivo, muitos países reduziram as exportações porque buscaram queimar estoques. "Estoque também é custo. Ele (importador) precisa de financiamento e começou a queimar estoques." ALENTO Justamente pelo fato de os estoques estarem sendo reduzidos nos países importadores, a Abiec já começou a notar uma ligeira recuperação das exportações brasileiras. Apesar do resultado geral ruim em janeiro, a associação registrou um aumento nas vendas para a Rússia, tradicionalmente o principal destino da carne brasileira. Em relação a dezembro, um mês também crítico para o setor, as exportações para a Rússia aumentaram 20,2 por cento, em valor, ou cerca de 7 milhões de dólares. Em volumes, os embarques subiram 33 por cento, ou 5,3 mil toneladas, segundo o executivo. "O mercado está reagindo, e o primeiro a mostrar isso foi a Rússia, e é natural que seja Rússia porque teve quedas e problemas acentuados." A Rússia comprou mais de meio milhão de toneladas de carne do Brasil em 2008, praticamente um quarto dos embarques totais do país, ou 1,4 bilhão de dólares . "Os russos queimaram bastante os estoques e agora estão voltando", acrescentou. O representante da Abiec, entretanto, ponderou que a entidade não espera uma normalidade dos embarques do Brasil antes do segundo semestre. Outro fator que pode servir também de estímulo para os exportadores é o câmbio, que permitirá ao setor obter mais reais com suas vendas, compensando em parte a queda do preço em dólar com a crise, segundo Cançado.

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