ENTREVISTA-Brasil deve manter grandes compras de trigo dos EUA em 2014

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Por ROBERTO SAMORA
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Os Estados Unidos continuarão sendo os principais fornecedores de trigo ao Brasil em 2014, uma vez que a Argentina novamente não terá volumes suficientes para atender a totalidade da demanda de importação brasileira, afirmou nesta segunda-feira um importante industrial e representante do setor no país. A afirmação de Lawrence Pih, presidente do moinho Pacífico e conselheiro da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), foi feita após a Argentina anunciar nesta segunda-feira autorização para exportação de um volume de apenas 1,5 milhão de toneladas da safra 2013/14, cuja colheita está em fase final no país vizinho. O governo brasileiro estima que o Brasil terá que importar em 13/14 (agosto/julho) um volume de 6,5 milhões de toneladas, contra 7 milhões na ano agrícola anterior. "Novamente os Estados Unidos vão exportar mais do que Argentina (para o Brasil)", afirmou Pih, em entrevista à Reuters, indicando que a situação do ano passado tende a se repetir. De janeiro a dezembro de 2013, segundo dados oficiais do governo brasileiro, o Brasil importou cerca de 3,5 milhões de toneladas dos EUA (contra 54,5 mil toneladas no mesmo período de 2012), enquanto as importações vindas da Argentina no período somaram 2,5 milhões de toneladas (ante 5 milhões de toneladas em 2012). Essas importações de trigo dos EUA no ano passado foram feitas em boa parte contando com uma isenção da Tarifa Externa Comum do Mercosul, de 10 por cento, algo que os moinhos brasileiros reivindicarão novamente este ano, disse Pih. "O setor já está trabalhando para reduzir a TEC, acreditamos que assim que terminar a exportação argentina, imediatamente vamos solicitar para eliminar a TEC, mesmo porque índice de inflação no Brasil foi bastante alto em 2013, e o governo também tem todo interesse em não deixar a farinha e o pão subirem", avaliou. Ele avalia que há possibilidade de eliminação da TEC a partir de maio, com validade até o início da colheita nacional, em setembro. No momento, os preços da farinha não estão tão pressionados no Brasil porque as cotações do trigo no mercado de Chicago (referência global) atingiram recentemente mínimas de três anos e meio por conta da grande oferta global, ajudando a compensar as importações hoje feitas com TEC e os custos mais altos com frete dos EUA. ALÍVIO PROVISÓRIO Aqueles moinhos que contavam com o trigo argentino neste início de ano já estão comprando o cereal norte-americano, mesmo com TEC, uma vez que as exportações do grão da Argentina estavam suspensas desde o final do ano passado, em meio a preocupações com o tamanho da safra e com a inflação. Nesta segunda-feira, a Argentina liberou 500 mil toneladas para embarque imediato. "O volume para embarque imediato é abaixo do que foi comprado pelo Brasil. Cerca de 700 mil (toneladas) já foram compradas, acredito que caberá às tradings e não ao governo decidir quem vai receber o trigo", disse o industrial, que acredita que o governo argentino poderá liberar um volume superior ao divulgado, à medida que o tamanho da safra argentina fique mais claro. Ele estimou que cerca de 80 por cento da safra argentina já foi colhida. Ainda nesta segunda-feira, o governo argentino elevou sua previsão para a colheita de trigo em 2013/14 para 9,2 milhões de toneladas, ante 9 milhões de toneladas estimadas anteriormente. "A Argentina está um pouco cautelosa demais. Trabalhamos neste momento com uma estimativa acima de 10 milhões, eles teriam para exportar 2,5 a 3 milhões", disse o industrial. A safra passada (2012/13) da Argentina foi de 9,5 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA. (Reportagem adicional de Gustavo Bonato)

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