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ENTREVISTA-Crise externa 'amolece coração' por seguro de crédito

Por DANIELA MACHADO
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O conturbado cenário externo, com desaceleração das principais economias e inflação acelerada, vai chegar ao Brasil no final deste ano. A previsão é negativa, mas vem de um setor em que más notícias também podem ser sinônimo de negócios: o de seguro de crédito. "Acho que (a crise) afeta o Brasil ainda este ano, o quarto trimestre vai ser bastante negativo", afirmou à Reuters Fernando Blanco, presidente da Coface no Brasil, do grupo francês Natixis . "E para o meu negócio é bom que as pessoas se vejam caminhando para perto do abismo, mas que não caiam", acrescentou Blanco, destacando que não torce para que o pior aconteça. Até agora, as fortes perdas amargadas por bancos e corporações nos Estados Unidos e o aumento da inandimplência tornaram as empresas no Brasil mais propensas a buscar seguro para seus financiamentos. Mas esse tipo de operação ainda pode ser considerado novidade por aqui. "A crise externa amoleceu os corações. A melhor expressão para o que está acontecendo é que as empresas ficaram mais sensíveis à nossa oferta... Antes essas empresas eram refratárias até a conversar sobre seguro." A companhia francesa, que administra cerca de 500 bilhões de dólares em risco de crédito no mundo, tem no país uma carteira de 20 bilhões de reais. Em um dos segmentos atendidos pela Coface, de crédito à exportação, os preços do seguro aumentaram em meados de abril em decorrência do cenário externo. "Esse foi o pior momento e depois se estabilizou. Não é bom, mas também não piorou", comentou Blanco. No caso do seguro de crédito entre empresas no país, o aumento tem sido "brutal", segundo ele. A Coface tem 61 por cento de market share nesse segmento e espera fechar o ano com crescimento de cerca de 50 por cento --ritmo que já está sendo verificado. "NEO-ENDIVIDADOS" Blanco mostra preocupação com o ritmo de crescimento do crédito de uma maneira geral no Brasil e, principalmente, para o "neo-endividado". "É aquele que estava fora do sistema de crédito porque não atingia as exigências mínimas... A ausência de educação financeira do brasileiro é preocupante", disse. O executivo teme uma "volatilidade" no volume de crédito disponível, ou seja, um retrocesso frente ao montante já alcançado e que pode gerar grandes problemas de inadimplência. "O Brasil saiu de 22 por cento do PIB em crédito para 36 por cento. O que me deixa desconfortável é que isso não foi construído em momentos de altos e baixos, foi só na onda da bonança geral", o que deixa bancos e clientes sem experiência para momentos mais turbulentos.

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