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ENTREVISTA-EUA não podem se impor sobre Honduras--líder de facto

Por MAYRA NAVARRO
Atualização:

O líder interino de Honduras, Roberto Micheletti, disse que os Estados Unidos têm de entender que não se pode impor decisões a seu país e que, apesar das pressões, não aceitará a recondução ao poder do presidente deposto, Manuel Zelaya. O governo de Barack Obama pediu a restituição de Zelaya, removido à força em 28 de junho quando pretendia realizar uma consulta popular sobre a possibilidade de reeleição presidencial, seguindo o exemplo, segundo seus opositores, do presidente venezuelano, Hugo Chávez. O governo norte-americano suspendeu a ajuda militar ao país, no valor de 16,5 milhões de dólares, e interrompeu emissão de grande parte dos vistos de entrada nos EUA na embaixada em Tegucigalpa. Também ameaçou suspender cerca de 150 milhões de dólares de ajuda a Honduras, como forma de pressão pela recondução de Zelaya ao poder. Membros do Departamento de Estado dos EUA recomendaram que a deposição de Zelaya seja declarada "um golpe de Estado militar", o que poderia custar a Honduras dezenas de milhões de dólares adicionais de ajuda, segundo um funcionário em Washington. "O que eu sinto é que os (Estados Unidos) ainda não entenderam que a um país como o nosso não se impõe nada, que talvez anteriormente tivessem a facilidade", disse Micheletti, em entrevista à Reuters TV na tarde quinta-feira na sede da presidência na capital hondurenha. Honduras vinha sendo o mais fiel aliado de Washington na América Central. Na década de 80 serviu como plataforma da estratégia dos EUA para enfrentar os movimentos guerrilheiros de esquerda na região. Desde essa época é base de pouco mais de 400 soldados norte-americanos. NÃO CEDER A PRESSÕES Micheletti, designado presidente pelo Congresso pouco depois do golpe, disse esta semana a uma missão de chanceleres da Organização dos Estados Americanos (OEA) que não cederia à pressão para a restituição de Zelaya, apesar da possibilidade de sanções, e que um novo presidente será eleito em 29 de novembro, mesmo não sendo reconhecido pela comunidade internacional. Obama instou Micheletti a aceitar as propostas do presidente costa-riquenho, Oscar Arias, cujos esforços para pôr fim à crise se chocaram com a negativa do governo interino de permitir o retorno de Zelaya ao poder. Pelo acordo, Zelaya retomaria a presidência até as eleições. O acordo "não é uma ordem que alguém emita, por isso podemos retirar o que nós acreditamos que não convém aos interesses dos hondurenhos e podemos perfeitamente chegar a um acordo sem a presença do senhor Zelaya", disse Micheletti. O líder interino afirmou que seu governo poderia decidir em breve se desligar da Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), um mecanismo de integração regional patrocinado por Chávez, ao qual Honduras havia aderido durante a gestão de Zelaya. Integram a Alba Venezuela, Cuba, Nicarágua, Bolívia, Equador e Dominica. "Creio que sim. Tenho que consultar o nosso gabinete para criar e apresentar ao Congresso a devida lei", disse Micheletti, consultado sobre se Honduras renunciará à sua participação na Alba.

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