ENTREVISTA-Sem ajuda externa, Ibovespa não chega a 65 mil pts--BTG

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Por DANIELE ASSALVE
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Sem melhora do cenário externo, o principal índice das ações brasileiras não deve chegar a 65 mil pontos no fim deste ano, disse à Reuters o estrategista de Brasil do BTG Pactual, Carlos Sequeira. "A gente depende de um movimento de aumento de exposição a risco nos próximos meses. Sem isso, dificilmente o Ibovespa vai atingir 65 mil pontos", afirmou ele em entrevista por telefone na quinta-feira. A fraca temporada de resultados corporativos no Brasil e os riscos para a economia mundial, com a possível saída da Grécia da zona do euro, devem levar o BTG Pactual a revisar para baixo sua projeção para o índice no fim de 2012. Sequeira afirmou que os fundamentos das empresas brasileiras no início do ano indicavam que o Ibovespa encerraria 2012 próximo dos 75 mil pontos, o que representaria alta de 32 por cento em 2012. "Mas, na verdade, essa foi uma temporada (de resultados corporativos do primeiro trimestre) relativamente ruim, com um número recorde de empresas entregando resultado abaixo das expectativas", disse Sequeira. De 115 empresas analisadas pelo BTG Pactual, 34 por cento apresentaram números abaixo do previsto para o período de janeiro a março. Considerando apenas as companhias que fazem parte do Ibovespa, o percentual chega a 46 por cento, segundo relatório enviado pelo banco a clientes na quinta-feira. "Bancos, real estate (construção) e mineração e siderurgia, setores com muito peso na bolsa, vieram com resultados muito fracos. A expectativa é que nossos analistas revisem projeções para alguns setores para baixo", comentou Sequeira. Como o BTG Pactual baseia sua estimativa para o Ibovespa na expectativa de desempenho dos setores que compõem o índice, a projeção para o referencial do mercado acionário brasileiro no fim de 2012 também deve ser reduzida. O novo patamar ainda será calculado, mas Sequeira antecipou que uma projeção linear aponta para cerca de 65 mil pontos, o que indicaria avanço de 14,5 por cento sobre dezembro de 2011 e alta em torno de 20 por cento em relação ao nível atual do Ibovespa, que ronda os 54 mil pontos. A eventual saída da Grécia da zona do euro já estaria parcialmente precificada, segundo o estrategista do BTG Pactual. Mas a possibilidade de contágio e de corrida bancária em países como a Espanha ampliariam o nível de aversão ao risco nos mercados, com reflexo direto no desempenho da bolsa brasileira. "Os investidores estrangeiros usam o Brasil para adicionar ou tirar risco de seus portfólios. Independentemente dos fundamentos da nossa economia serem mais ou menos sólidos, o pessoal vende Brasil quando há estresse externo." Os estrangeiros retiraram cerca de 2,7 bilhões de reais da Bovespa em maio até o dia 23. Nesse patamar, já seria a maior saída mensal da bolsa paulista desde outubro de 2008, quando o saldo externo ficou negativo em 4,69 bilhões de reais. "Até junho, quando ocorre a eleição na Grécia, vamos ter uma situação de pouco dinheiro voltando para cá", previu Sequeira. Depois disso, o fluxo de capitais para ativos de risco dependerá do resultado das urnas gregas e da capacidade de articulação dos líderes europeus para lidar com a crise da dívida no continente.

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