ENTREVISTA-Serra não deve apresentar reformas, diz Aloysio Nunes

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Por CARMEN MUNARI
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Nas eleições de outubro, Aloysio Nunes Ferreira, recém-saído do governo paulista, vai tentar quebrar um vácuo que se estende desde 1994: obter para o PSDB-SP uma vaga no Senado Federal. Naquele ano, José Serra, atual pré-candidato à Presidência da República, conseguiu o posto e depois nenhum outro tucano do Estado chegou lá. Aloysio, de 65 anos, que goza do aval do amigo Serra para disputar o Senado, foi escolhido pelo PSDB nesta semana, vencendo o deputado José Aníbal (SP), que retirou o nome da disputa. Situação similar à dele próprio, que almejava disputar o governo paulista, mas abdicou em nome de Geraldo Alckmin, líder nas pesquisas. "Eu vou interromper esta sequência e acabar com esta escrita, como se diz no futebol", afirmou Aloysio à Reuters, apostando na vitória. Se estiver no Senado a partir do ano quem, Aloysio acredita que as tão faladas reformas estruturantes não serão objeto de apresentação de Serra, se eleito presidente. As alterações na legislação seriam realizadas por "mudanças temáticas". Serra deve seguir a experiência trilhada pelo ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) que, segundo Aloysio, optou por um cardápio de emendas constitucionais específicas, entre elas a abertura nas telecomunicações, o fim do monopólio do petróleo da Petrobras e sobre a navegação de cabotagem. "O Fernando Henrique fez isso de forma setorizada e conseguiu aprovar uma por uma. Se ele tivesse dito: 'vamos reformar o capítulo da ordem econômica', ele não teria feito nada. Estaríamos ainda com os bancos estatais, estaríamos com a telefonia da idade da pedra. Este seria o método que o Serra adotaria, ao invés de começar as grandes reformas", disse o pré-candidato ao Senado. Esta postura de Serra, explica, vem de sua vivência de "parlamentar calejado", com dois mandatos de deputado federal e um de senador. A mais recente tentativa de realizar uma reforma tributária, proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contou com forte oposição de Serra, enquanto governador paulista. Na opinião de seu ex-secretário, o projeto que estacionou no Congresso é uma "colcha de retalhos", um "ajuntamento de demandas de setores" e tem "o risco era criar um problema fiscal difícil de superar". Aloysio admite que a carga tributária é pesada, que a exportação é muito onerada por tributos que dificultam a competitividade, mas acredita que é possível sanar os problemas com medidas específicas. Defende, assim como Serra, projeto em tramitação no Senado há dois anos que prevê o fim da cobrança de PIS/Cofins do setor de saneamento. "É muito importante para permitir o investimento na área", disse. VAGA DE VICE Sem a presença de Aécio Neves na vice de Serra, o PSDB vem buscando atrair o senador Francisco Dornelles (PP-RJ). Aloysio pondera que a questão é da competência do presidente da legenda, Sérgio Guerra, mas não escapou de elogiar Dornelles. "Experiente, conhece o Brasil, um craque" e pode ajudar nas campanhas do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Quanto ao aliado DEM, crê que a legenda tem potencial em cinco Estados (RJ, BA, SE, PE e RN) apesar do episódio que envolveu o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, que deixou a sigla após escândalo de corrupção. Para Aloysio, o caso tem origem em um "desvio de caráter localizado" e faz parte da "patologia política de Brasília". Ex-deputado federal por três mandatos, o tucano aparece com 6 por cento das intenções de voto no Datafolha de abril. Na dianteira está a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), com 43 por cento. Outros possíveis candidato são o ex-governador Orestes Quércia (PMDB), o senador Romeu Tuma (PTB), os vereadores Netinho de Paula (PCdoB), Soninha (PPS) e Gabriel Chalita (PSB), além de Ricardo Young (PV). Neste ano, cada Estado elege dois senadores.

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