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Episódio traz lição para região

Para analistas, acordo consolida rechaço às ameaças à democracia

Por Ruth Costas
Atualização:

Seria prematuro dizer hoje quem ganha e quem perde com o acordo hondurenho. O Brasil, afinal, ao receber Manuel Zelaya em sua embaixada, permitiu que as negociações fossem retomadas, mas foi muito criticado por pender para um dos lados no conflito, em vez de manter uma posição neutra. Zelaya deve voltar ao poder como queria, porém teve de desistir da mudança constitucional que permitiria sua reeleição - e precisará ser mais contido em suas declarações de apoio a Hugo Chávez. O governo de facto deve ser obrigado a restituí-lo, mas, provavelmente, conseguirá eleger um aliado para a presidência no dia 29. O que está claro, segundo analistas, é o duplo caráter didático desse acordo para a América Latina. "Se os termos do pacto forem cumpridos e tivermos eleições livres e limpas, esse será um exemplo valioso para o avanço da democracia na região", disse ao Estado Eduardo Viola, professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB. "De um lado, o pacto mostra que a América Latina não vai aceitar golpes de Estado corretivos. De outro, consolida o rechaço da população hondurenha ao modelo de Chávez - um modelo admirado por Zelaya, mas que mina princípios, como a alternância de poder e a pluralidade", disse Viola.Para Clodoaldo Bueno, especialista em política externa da Unesp, a forma como finalmente se chegou ao acordo - com uma pressão decisiva dos EUA - mostra os limites da influência brasileira na região. "Esse desfecho indica que liderança não é algo que se busca. É algo que se tem", disse Bueno. "No final, quem resolveu a questão foi a grande nação do continente."De acordo com o costa-riquenho Kevin Casas-Zamorra, especialista em América Central da Brookings Institution, é possível que os EUA não tenham tomado uma posição assertiva antes porque esperavam que o governo brasileiro, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e outros atores regionais pudessem resolver a situação sozinhos. "No momento em que ficou evidente que o Brasil não daria um passo a frente para solucionar a crise, os americanos agiram", afirmou Casas-Zamora.

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