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Especialista diz que país tenta ''adoçar'' o acordo

Por Wilson Tosta
Atualização:

Dois especialistas em desarmamento dividiram-se ontem quanto à possível solução para o impasse nas negociações sobre o programa nuclear do Irã. O americano Joseph Cirincione, presidente do Ploughsahres Fund, afirmou que os iranianos não têm saída ante o crescimento das pressões de outros países e apenas tenta "adoçar" o acordo que, no final, se fechará com as potências ocidentais e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Já o diplomata sueco Rolf Ekeus, do Instituto de Pesquisa sobre Paz Internacional, afirmou avaliar que o Irã está rejeitando a proposta de enviar combustível para Rússia e França. Ambos participaram do primeiro dia do Seminário Internacional Não-Proliferação Nuclear e Desarmamento, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), na Cidade Nova, no Rio."O Irã agora está tentando adoçar o acordo, tentando obter um acordo melhor", declarou Cirincione ao Estado. "Também há profundas divisões no país, está virando um problema doméstico. Estou na verdade convencido de que basicamente os líderes do Irã querem esse acordo e estão apenas negociando as melhores mudanças possíveis. Não há realmente alternativa melhor para o Irã." Para ele os iranianos estão enfraquecidos e a oposição internacional ao programa iraniano, "mais forte e mais unificada."Já Ekeus mostrou-se pessimista. Após uma palestra em que se mostrou cético quanto à possibilidade de avanços na conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, que ocorrerá em 2010, o diplomata destacou que as atividades iranianas de enriquecimento de urânio continuam. "Não sabemos se o Irã está realmente desenvolvendo armas nucleares, seria errado dizê-lo, mas eles (os iranianos) definitivamente, mantêm uma opção em direção a armas nucleares", declarou. As atitudes opostas dos dois especialistas marcaram o primeiro dia de debates. Cirincione mostrou-se entusiasmado com a mudança da política internacional dos Estados Unidos sob o governo de Barack Obama. Exibiu o trecho do discurso em que o presidente americano expressou o objetivo de chegar a um mundo sem armas nucleares. Também apresentou foto de Obama, com os dizeres: "Is he the one?" (Ele é o cara?). "Não é trabalho para um homem só. Ele não pode fazer sozinho", disse.Com a experiência de veterano em negociações do gênero, Ekeus pediu gestos efetivos pela não-proliferação. "Claro, gostamos de ouvir o presidente Obama. Mas é preciso compromissos concretos. Ter um documento não basta. Precisamos de compromisso real."

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