Especialistas divergem sobre a proibição dos medicamentos pela Anvisa

PUBLICIDADE

Por Fernanda Bassette
Atualização:

''Chegamos a conclusões opostas às da agência''

 

Ricardo Meirelles, PRESIDENTE DA SOCIEDADE. BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA

 

PUBLICIDADE

QUEM É : Formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, é presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e diretor-geral do Instituto Estadual de Diabete e Endocrinologia Luiz Capriglione.

Para o endocrinologista Ricardo Meirelles, proibir o uso dos medicamentos usados no tratamento da obesidade é uma medida extrema da Anvisa.

Por que a Sbem é contra a proibição do uso dessas drogas? Porque atualizamos as diretrizes de tratamento de obesidade no final de 2010 e chegamos a conclusões opostas às da Anvisa. Esses remédios, quando bem prescritos, são úteis, bem tolerados e trazem bons resultados. Ruim é quando são usados sem critério. Tirar do mercado é como proibir usar carro porque eles causam acidentes.A Anvisa diz que há estudos comprovando que essas drogas não trazem benefícios. Não tivemos acesso a esses estudos. Quando pedimos para ter acesso, disseram que eram estudos confidenciais. Na ciência, nada pode ser confidencial. A Anvisa diz que está seguindo uma tendência internacional. O Brasil não tem de imitar ninguém. Temos de nos basear em evidências científicas. Se elas forem de qualidade, nós vamos concordar em tirar o medicamento do mercado. Mas não podemos partir de ideias preconcebidas. Nós, endocrinologistas que lidamos diariamente com a questão da obesidade, não fomos ouvidos previamente pela agência. Fomos comunicados. Esses medicamentos são realmente eficazes e seguros? Sim, para determinados casos de pacientes que não respondem mais ao tratamento convencional e não tenham problemas cardíacos. A nossa intenção era de que o Sistema Único de Saúde (SUS) colocasse esses medicamentos à disposição na rede pública. Esses medicamentos são um sucesso terapêutico porque, além da perda de peso, também ajudam a controlar o diabete e a hipertensão.

 

***

 

''Governo está na linha exata da proteção do paciente''

Publicidade

 

Marcelo Ferraz Sampaio, CHEFE DO LABORATÓRIO DE BIOLOGIA MOLECULAR DO DANTE PAZZANESE

QUEM É : Doutor em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é chefe do laboratório de biologia molecular do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e vice-diretor clínico do Hospital Oswaldo Cruz. Para o cardiologista Marcelo Ferraz Sampaio, a proibição deve ser total. A Anvisa quer proibir o uso de todos os emagrecedores. Qual a sua avaliação? Concordo plenamente. Antes, qualquer médico prescrevia, sem nenhum critério. E o uso indiscriminado dessas drogas continuou mesmo depois da restrição imposta pela agência. Os riscos de complicações cardíacas são muito grandes, mesmo em pacientes sem histórico.De que maneira continuou o uso indiscriminado?Há muita solicitação pessoal. A pessoa é amiga do médico e pede uma receitinha, sem fazer a consulta. Ele prescreve, não pede nenhum exame e não faz o acompanhamento necessário. O acesso continua fácil.Endocrinologistas reclamam que não foram ouvidos antes.É papel da Anvisa cuidar disso. Sou a favor de que a nossa agência se aproxime da FDA (agência reguladora americana). Na hora em que a FDA impôs restrições, elas devem ser seguidas.Quais são os problemas desses medicamentos?Eles podem causar efeitos colaterais potencialmente graves. Podem provocar arritmias, taquicardias e até enfarte.É possível emagrecer sem remédio?Sim. Eu mesmo já prescrevi muita sibutramina. Há dois anos, depois dos resultados mostrando os riscos, só trato meus pacientes com dieta e exercícios físicos. Remédio é uma grande muleta. A pessoa toma a medicação pensando que vai poder continuar comendo de tudo. A Anvisa está na linha exata de proteção do paciente e não dos interesses da indústria farmacêutica.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.