Estatais crescem no mercado de distribuição

Cemig e Eletrobrás devem liderar a concentração de empresas do setor

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Por Débora Thomé
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É tempo de mudança na área de distribuição de energia elétrica: empresas se preparam para aumentar sua participação acionária, mudar a composição ou fazer novas aquisições. Nesse novo movimento, que deve aumentar a concentração do setor, empresas estatais, como Cemig e Eletrobrás, ou fundos de pensão, como o Previ, devem ganhar mais espaço. Um dos movimentos mais adiantados nesse cenário é o aumento da participação acionária da Cemig na Light, distribuidora do Rio. Tudo indica que a Cemig comprará a participação de 13% da Equatorial, que pertence ao Pactual, e outros 13% relativos à participação do grupo Andrade Gutierrez. Calcula-se que o montante da operação para apenas um desses blocos giraria em torno de R$ 1,5 bilhão. Seja como for, a intenção da Cemig, dizem fontes do setor, é se manter apenas perto do controle, pois fazer um retorno à estatização poderia prejudicar a governança.O professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico, da UFRJ, acredita que "não há diferença se o controle das empresas estará nas mãos de um grupo privado ou estatal. Isso porque, hoje, é necessário haver nessas distribuidoras gestão empresarial. Do contrário a empresa não é competitiva". Assim, ele define o modelo atual como "uma parceria estratégica público privada". A Cemig vem acenando também para as duas distribuidoras do grupo espanhol Endesa: a Ampla (RJ) e a Coelce (CE). E também negocia a compra do controle da CEB (DF), atualmente estatal, que tem problemas de gestão e dívida alta. E o mercado especula ainda que poderia tentar ainda uma das distribuidoras do Grupo Rede, que controla, entre outras a Celtins (TO) e a Cemat (MT)."A Cemig está capitalizada, tem custos baixos e aprendeu uma forma de se associar a fundos de investimento, o que faz com que seu risco diminua", diz uma fonte do setor para explicar de onde vem tanta disposição. Eduardo Roche, analista de energia do Banco Modal, comenta que a Cemig está preparando um modelo semelhante para a compra de participação na Light ao desenhado para a compra da Terna (de transmissão). "Ela não vai entrar sozinha", diz.Até 2008, havia limites para o controle na distribuição. As empresas não podiam deter participação superior a 20% na energia distribuída nacionalmente. Mas essas regras caíram. "Há uma tendência de consolidação no setor. No mundo inteiro é assim", diz Plínio Barbosa, sócio do escritório de advocacia Barbosa, Müssnich & Aragão. Eduardo Roche acha que um movimento forte de Previ e BNDES nas distribuidoras é esperada, assim como ocorre no setor de telecomunicações. Nivalde de Castro argumenta que, na verdade, o que dá poder a uma empresa de energia elétrica hoje não é estar ligada ao Estado, mas, sim, ter ativos em toda a cadeia: da geração à comercialização. Dessa forma, na visão dele, os grupos mais fortes atualmente - os possíveis consolidadores - seriam Cemig, CPFL (controlada pela Previ e pela Camargo Corrêa) e mesmo a EDP, dona das distribuidoras Escelsa (ES) e Bandeirantes (SP). BNDESUma outra modificação esperada no mercado é um reposicionamento do BNDES. O banco está atualmente, ao lado da AES, na holding Brasiliana, que controla a Eletropaulo (SP). Entre as maiores distribuidoras, também está presente no capital da Light. Assim, há quem no mercado acredite que o banco pode optar por sair - ou diminuir participação - em alguma delas. O mesmo tende a ocorrer com a Previ, que está tanto na CPFL quanto na Neoenergia (presente no Nordeste). No fundo de pensão, já se pensou em instituir uma única empresa, mas o mais provável agora é que se mude a composição societária de algum dos negócios. O porém, caso queira se desfazer, é que o valor de mercado da sua participação em cada um deles ronda os R$ 5 bilhões. Só um ator de peso conseguiria ocupar esse lugar. Além da Previ, também estão no capital da Neoenergia a espanhola Iberdrola e o BB Invest .Já o aumento da participação da Eletrobrás na área de distribuição passa diretamente pelo Grupo Rede, que tem a estatal como sócio, por exemplo, da paraense Celpa. Suas dívidas com a estatal podem fazer com que ela perca participação, e a Celpa passaria a ser controlada pela Eletrobrás.

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