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Estelionatários usam cartórios de SP para aplicar golpe em todo o País

Quadrilha entra em contato com vítimas, cobra pagamento de títulos de falsas dívidas e ameaça protestá-las

Por Isis Brum
Atualização:

JORNAL DA TARDEUma quadrilha de estelionatários tem usado cartórios de títulos paulistas para aplicar golpes em todo o País. Seria apenas um trote por telefone não fosse o grande número de pessoas, empresas e até um tabelionato que já caíram na cilada. Só o 1º Cartório de Títulos de São Paulo recebe, em média, cem ligações por mês de vítimas do golpe do protesto de título.O golpista se identifica como funcionário de uma assessoria de cobrança de crédito e informa, por telefone, que o empresário será protestado por ter deixado de pagar uma dívida ? além de entrar para a lista de devedores, a vítima ainda pode ter seus bens penhorados caso não regularize a situação. É comum argumentarem que o débito se deve a um anúncio publicitário feito em lista telefônica.Os valores geralmente são inferiores a R$ 2 mil. O criminoso informa o cartório para onde o título foi enviado, com o nome do tabelião e o endereço corretos, e passa um número falso de telefone para a vítima entrar em contato. A maioria das pessoas confere o endereço, mas não o telefone. Ao entrar em contato, está negociando com outro bandido. Ele pede para a vítima fazer um depósito em uma conta corrente, naquele mesmo dia, para impedir que o documento seja protestado."Os cartórios nunca fazem esse tipo de ligação", alerta Cláudio Marçal Freire, vice-presidente da Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg-BR) e titular do 3º Tabelião de Protestos de São Paulo. "Para fazer a cobrança, o cartório intima o devedor por meio de um mensageiro próprio, carta registrada e, em caso de não ser localizado, o comunicado é feito em edital", explica Freire. Sem esse procedimento inicial, o cartório não pode abrir nenhum processo de cobrança."É preciso desconfiar um pouquinho. Se a pessoa não deve, não pode ir pagando qualquer cobrança", diz José Carlos Alves, titular do 1º Cartório de Títulos e presidente do Instituto de Estudos de Protesto do Estado de São Paulo (IEPT-SP).Há ainda a tentativa de golpe por e-mail, em que os bandidos usam o brasão da República para dar a aparência de que a cobrança eletrônica é verdadeira. AS VÍTIMASUma comerciante de Juiz de Fora, em Minas, caiu no golpe do protesto de títulos duas vezes e sofreu prejuízo de R$ 2.900 no ano passado. Sem saber que era vítima de estelionatários, ela procurou um advogado e entrou com ação contra o 1º Cartório de Protestos de São Paulo.Segundo o advogado Dimas Rangel Brandão, a primeira cobrança foi no valor de R$ 2.600, por anúncios que ela teria feito em um catálogo telefônico. A pessoa que se passou por funcionário do cartório teria dito que enviaria uma cópia dos documentos quitados.Como os papéis não foram enviados, a comerciante ligou novamente e, dessa vez, foram exigidos R$ 300. Como não conseguiu resgatar os títulos, a empresária acionou a Justiça."Ela foi vítima de um golpe", afirma o titular do 1º Cartório de Protestos da Capital, José Carlos Alves. "Mas estou sendo processado e, apesar de explicar isso à Justiça, tenho de aguardar a decisão." Para Brandão, Alves não apresentou provas suficientes. Segundo ele, se o cartório não comprovar que nada tem a ver com o bando, vai pedir indenização. O advogado, porém, confirma que o telefone não corresponde ao correto. POLÍCIAA reportagem procurou o Departamento Estadual de Investigação sobre o Crime Organizado (Deic), da Polícia Civil, que tem divisão de estelionato, para falar sobre o golpe e quais ações são tomadas para reprimir esse crime. Os contatos, porém, não foram retornados.

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