Estresse não interfere em tratamento para engravidar, revela estudo

PUBLICIDADE

Por Fernanda Bassette
Atualização:

Mulheres que estão em tratamento clínico para tentar engravidar podem ficar tranquilas: apesar de o senso comum indicar o contrário, estar estressada, tensa ou ansiosa não afeta as chances de o ciclo de fertilização dar certo.A boa notícia é a conclusão de uma revisão de 14 estudos, envolvendo 3.583 mulheres inférteis de dez países. Todas responderam um questionário para falar sobre estresse e ansiedade antes de iniciar o tratamento e todas foram submetidas a um ciclo de tratamento de fertilidade.A revisão levou em consideração estudos feitos entre 1985 e março de 2010. Os resultados foram publicados no British Medical Journal. Segundo a revisão, não há dúvidas de que o tratamento de fertilidade pode ser estressante - estima-se que cerca de 30% dos casais param o tratamento por causa da carga psicológica. Mas, segundo os pesquisadores, os resultados apontam que não há nenhuma associação entre o estresse emocional elevado e o fracasso do tratamento. Para os pesquisadores, a crença de que o estresse é o culpado de tudo é baseada em mitos como a frase "relaxe e você vai engravidar" ou "não pense nisso e você vai ficar grávida". Segundo Edson Borges Júnior, da clínica Fertility, ainda existe um folclore no imaginário das mulheres que fazem tratamento de fertilidade. "Elas sempre perguntam se o fato de estarem estressadas vai reduzir as chances de gravidez. Muitas ainda acreditam nisso, enquanto o estresse não atrapalha tanto quanto pensam", diz.De fato, o tratamento é estressante. A mulher passa por um ciclo de indução à ovulação que é dolorido (as injeções são na barriga) e, depois de implantar os embriões, ainda precisa esperar cerca de 12 dias para saber se o resultado é positivo ou não. E as chances de dar certo são de 40%.Tentativa natural. Artur Dzik, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, diz que o estilo de vida e fatores biológicos como o estresse podem contribuir para o insucesso de uma gestação - mas apenas quando a tentativa for natural."O problema emocional pode impactar a função reprodutiva in vivo mas não in vitro, com a eventual diminuição da libido, redução da frequência de relações sexuais e a não adesão aos tratamentos médicos propostos para corrigir a infertilidade. Mas, no caso da reprodução assistida, não tem como o estresse interferir", diz o médico. Carlos Alberto Petta, responsável pelo Centro de Reprodução Humana de Campinas, concorda. Ele diz que é sabido que o estresse, a correria e a agitação do dia a dia podem provocar alterações hormonais e fazer a mulher não ovular, por exemplo."Mas se essa mulher foi tratada e conseguiu ovular para iniciar o ciclo de fertilização, não é o fato de estar estressada que vai interferir nas chances de gravidez. É muito injusto com a mulher falar que ela não consegue engravidar por causa disso. Nem tudo na vida é estresse", diz.É o caso da fonoaudióloga Elaine Cristina Vigatto, de 35 anos, grávida de cinco meses. Ela se autodeclara ansiosa e estressada e diz que antes de iniciar o tratamento tomava remédios e fazia terapia com psicólogo para tentar reduzir a ansiedade.Elaine tentou engravidar naturalmente durante um ano. Passou por vários médicos e todos diziam que o fato de ela ser ansiosa e estressada estava interferindo nas chances de gravidez. "Ouvia isso a todo momento, mas nunca me conformei. Eu tinha certeza de que havia algum problema biológico interferindo."E ela estava certa. O estresse, no caso dela, pouco tinha a ver com a dificuldade de engravidar. Quando procurou uma clínica especializada em reprodução, soube que tinha endometriose - doença em que parte do endométrio se estabelece fora do útero, provocando infertilidade. Elaine iniciou o tratamento dois meses depois do diagnóstico e conseguiu engravidar na terceira tentativa - exatamente num período em que estava mais ansiosa e estressada por causa das falhas anteriores. "Foi uma fase que meu estresse emocional piorou muito. Estava descrente", conta.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.