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Europa assiste silenciosa à possível independência da Escócia

Os parceiros internacionais da Grã-Bretanha estão aturdidos diante da possibilidade de que uma das maiores potências ocidentais possa se dividir e mergulhar no ostracismo se a Escócia votar pela independência no referendo da semana que vem. Muitos temem que a secessão seja o prenúncio da saída britânica da União Europeia, sobre a qual o primeiro-ministro, David Cameron, prometeu um referendo em 2017, enfraquecendo a sexta maior economia do mundo e seus parceiros continentais. Outros ainda temem que se estabeleça um precedente, estimulando o separatismo na Catalúnia espanhola e em outras partes da Europa. Ativistas de independência de todo o continente sublinharam a preocupação se dirigindo a Edinburgo para apoiar a campanha do ‘sim’ e extrair lições para suas próprias causas. Alguns posaram para fotos com o líder nacionalista escocês Alex Salmond, que se empenha em transformar a vantagem estreita de seu campo nas pesquisas de opinião em uma vitória no dia 18 de setembro. A ideia não está sendo bem vista nas principais capitais do globo. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi direto ao exortar os britânicos a se manterem unidos e dentro da União Europeia. “Obviamente temos um grande interesse em garantir que um de nossos aliados mais próximos continue sendo um parceiro forte, robusto, unido e eficaz”, declarou Obama em uma visita à Europa ainda em junho. Em particular, autoridades norte-americanas e europeias se dizem preocupadas que uma Grã-Bretanha amputada em um terço de seu território e oito por cento de sua população se torne mais ensimesmada e menos disposta a se envolver em coalizões militares no exterior. Enquanto a França se comprometeu a se unir a Obama nos ataques aéreos ao Estado Islâmico no Iraque, Cameron pediu tempo e evitou um comprometimento claro até o momento.

Por PAUL TAYLOR
Atualização:

REAÇÃO EUROPEIA

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Seus parceiros europeus têm tentado apoiar Cameron discretamente na questão da Escócia, ressaltando o quanto valorizam a presença britânica na UE.

“Uma saída escocesa da união (com Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte) certamente aqueceria o debate sobre um referendo precoce (sobre a saída da UE)", disse Phillip Missfelder, porta-voz das Relações Exteriores dos conservadores da chanceler alemã, Angela Merkel, no parlamento alemão.

Na altamente centralizada França, é o precedente do separatismo que causa verdadeira angústia nos políticos.

“A ideia de que isso possa ocorrer na Europa em regiões como a Escócia demonstra que as fronteiras estão se esfacelando, e isso é preocupante”, afirmou a socialista Patricia Adam, que preside o comitê de Defesa da legislatura.

O chefe da Comissão Europeia, Jose Manuel Durão Barroso, enfureceu os nacionalistas em fevereiro ao declarar que uma Escócia secessionista teria que pedir para ser aceita novamente na UE e que descobriria ser “extremamente difícil, senão impossível” conquistar uma aprovação unânime.

O professor de direito internacional Nicolas Levrat, do Instituto de Estudos Globais da Universidade de Genebra, disse que a Escócia poderia dar início a uma série de novos Estados que forçariam a UE a mudar a maneira como é governada.

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O premiê espanhol, Mariano Rajoy, tem mantido silêncio sobre o tema, mas o chefe do governo catalão, Artur Mas, declarou que um ‘sim’ escocês seria

positivo para o movimento independentista.

A Irlanda está preocupada com o impacto da separação escocesa na Irlanda do Norte, parte da Grã-Bretanha e dividida entre protestantes, cuja maioria apoia a união britânica, e católicos, que tendem a favorecer uma união com a vizinha Irlanda.

O apoio à independência é muito mais limitado em outras partes da Europa como Flanders, na Bélgica, ou a porção do norte da Itália que os separatistas chamam de Padania.

  (Reportagem adicional de Andreas Rinke em Berlim, Elisabeth O'Leary em Madri, Phil Blenkinsop em Bruxelas, Tim Hepher em Bordeaux, Andrea Shalal-Esa em Washington, James Mackenzie em Roma, Angus Macswan em Edinburgo e Ayla Jean Yackley em Ancara)

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