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Evolução de mosca é resposta a mudança climática

As moscas analisadas hoje têm composição genética semelhante às que, décadas atrás, viviam mais perto do equador

Por Agencia Estado
Atualização:

O aquecimento rápido do clima parece estar provocando mudanças genéticas numa espécie de mosca das frutas que é nativa da Europa e foi introduzida nas Américas há 25 anos. "Este é um sinal claro de que a mudança climática está ocorrendo, e que a mudança genética vai junto", disse o biólogo Raymond Huey, da Universidade de Washington, co-autor de um artigo que descreve a descoberta, publicado no serviço online Science Express, da revista Science. A pesquisa envolveu uma mosca de fruta chamada Drosophila subobscura, que originalmente se espalhava do Mediterrâneo à Escandinávia. Biólogos europeus, que estudaram a constituição genética do inseto há mais de 40 anos, notaram que seções dos cromossomos estavam invertidas. Os biólogos notaram que a freqüência das inversões estava ligada à latitude em que a mosca se encontrava. Inversões comuns no norte da Europa eram raras no sul, e vice-versa. Essas moscas foram introduzidas acidentalmente no Chile no final dos anos 70, e nos Estados Unidos no início dos anos 80, provavelmente em navios de carga. A espécie espalhou-se rapidamente. As primeiras amostras de inversões de cromossomo foram coletadas em diversos locais da Europa há décadas, e novas amostras, das mesmas áreas, foram feitas recentemente. Moscas sul-americanas foram estudadas em 1981 e 1999. Na América do Norte, amostras foram extraídas em 1985 e 2004. Os cientistas também registraram as mudanças climáticas nesses intervalos. Em praticamente todos os locais, as temperaturas se elevaram, de modo consistente com o aquecimento global. "Se as inversões são sensíveis à temperatura, seria de se esperar inversões do tipo registrado em baixas latitudes aparecendo em todas as latitudes", disse Huey. E de fato, quando os pesquisadores compararam amostras velhas e novas, encontraram uma composição genética com maior freqüência das inversões que, antes, eram restritas a baixas latitudes. A implicação, segundo Huey, é que essas inversões devem proteger as moscas do calor. A composição genética encontrada nas novas amostras corresponde, quase exatamente, à composição de insetos que, nos estudos anteriores, viviam em locais 112 km mais próximos do equador. Isso significa que moscas coletadas em 2004 na cidade de Milwaukee (EUA) tinham a mesma estrutura genética que as encontradas, décadas antes, 112 km ao sul, em Chicago. O efeito foi o mesmo em todos os continentes.

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