EXCLUSIVO-Marina acabaria com programa do BC no câmbio e buscaria reduzir meta de inflação

Um governo de Marina Silva acabaria com o atual programa do Banco Central de intervenção no câmbio, que tem mantido a moeda brasileira artificialmente forte por mais de um ano, disse à Reuters nesta quinta-feira o assessor econômico do programa da candidata do PSB à Presidência da República Alexandre Rands. "Vamos acabar com isso", disse Rands em entrevista exclusiva, quando questionado sobre o programa diário de intervenção do BC no câmbio. "Isso não quer dizer que não possa ter pequenas atuações momentâneas para eliminar volatilidade, mas não uma política de mais de um ano simplesmente valorizando a moeda nacional." Desde agosto do ano passado, o BC sob o governo da presidente Dilma Rousseff mantém um programa de intervenção no câmbio com o objetivo de diminuir a volatilidade do mercado. Isso começou quando a moeda norte-americana se aproximou de 2,45 reais, diante de incertezas sobre o rumo da política monetária ultraexpansionista do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos. No mercado de câmbio, o dólar reagiu às declarações de Rands à Reuters e passou a subir na última meia hora do pregão desta quinta, fechando em alta de 0,26 por cento, a 2,2972 reais na venda. O assessor econômico de Marina disse ainda que, se eleita, a candidata priorizará a luta contra a inflação via redução dos gastos públicos e melhora da eficiência na arrecadação. Segundo ele, o contingenciamento em 2015 poderia alcançar "até 100 bilhões de reais" para gerar um superávit primário que ajude a reduzir a inflação. Isso representaria 8,7 por cento das despesas totais de 1,15 trilhão de reais previstas no Projeto de Lei Orçamentária da União para o ano que vem e quase 2 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). "O corte, que pode chegar a até 100 bilhões de reais, vai ser no volume necessário para gerar um superávit que dê a segurança para que comecemos a baixar a inflação", afirmou. Ele ressalvou que "a prioridade não é cortar gasto, a prioridade é controlar a inflação e gerar um ambiente onde o Brasil volte a crescer". Segundo Rands, os cortes de despesas não atingirão programas sociais como o Bolsa Família, mas, por exemplo, emendas parlamentares. O governo atual tem sido duramente criticado pela gestão das contas públicas e por recorrer a manobras contábeis para melhorar o superávit primário, a economia feita para o pagamento de juros da dívida pública federal. Analistas têm sugerido que o próximo governo faça um corte mais ousado das despesas para aumentar a credibilidade da equipe econômica.

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Por ALONSO SOTO
Atualização:

META DE INFLAÇÃO MENOR

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Marina ascendeu à corrida presidencial após a morte do candidato socialista Eduardo Campos em um acidente aéreo em agosto e tem aparecido nas pesquisas eleitorais empatada em simulação de segundo turno com Dilma, que tenta a reeleição.

O programa da candidata do PSB prega a independência institucional do Banco Central e promete recuperar o tripé macroeconômico formado por meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante.

Única dos principais candidatos na corrida presidencial a já ter apresentado programa de governo, a ex-senadora e ambientalista tem evitado esmiuçar os pontos econômicos de seu programa. No domingo, ela disse, ao ser perguntada sobre isso, que o "mais importante é recuperar a credibilidade do Brasil, sem o que não adiantará números".

Campos, ex-governador de Pernambuco que encabeçava a chapa à Presidência que tinha Marina como vice, tinha se comprometido em reduzir, caso eleito, a meta de inflação para 3 por cento para o ano seguinte ao término de seu mandato.

Rands adiantou à Reuters que uma administração Marina buscará reduzir a meta de inflação oficial, que é atualmente de 4,5 por cento ao ano, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

"O acordo é baixar a meta, a Marina já deu um ok para isso", disse Rands, acrescentando que ainda não se chegou a um percentual específico como alvo a ser alcançado.

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Sobre a taxa básica de juro, o economista afirmou que o patamar atual da Selic, em 11 por cento ao ano, pode ser "mais que suficiente" para controlar a inflação se suportada pela política fiscal.

"Talvez com Marina essa taxa de 11 por cento seja mais que suficiente para controlar a inflação, desde que você tenha uma gestão fiscal adequada", disse.

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