
26 de novembro de 2020 | 16h45
As empresas de telecomunicações e o mercado aguardam com ansiedade o leilão que decidirá a venda e o consequente uso do espectro para a implementação das redes de quinta geração (5G) no País, em frequências exclusivas. A previsão mais otimista indica que a concorrência pode ocorrer no primeiro semestre do ano que vem. A pessimista estabelece o segundo semestre de 2021 como data-limite. Independentemente de quando for, as autoridades, teles e fornecedores da tecnologia concordam em um ponto: será o maior leilão para 5G do mundo.
Inicialmente previsto para março de 2020, o leilão atrasou em virtude da pandemia, segundo Leonardo Euler de Morais, presidente da Anatel. Para ele, a crise do novo coronavírus vai influir também nos valores mínimos de vendas das licenças e nos investimentos que as teles adquirentes terão de realizar em contrapartida à exploração dos espectros.
Sem atrasos
Tiago Machado, VP da área de novos negócios da Ericsson – empresa que é uma das três grandes fornecedoras de tecnologia 5G proprietária do mundo, ao lado de Nokia e Huawei –, considera que o Brasil não sofreu grandes impactos, além do atraso, no leilão. Para ele, “o momento de pandemia chegou no período em que a Anatel realizava entendimentos e ajustes no edital além de outros testes”, o que não influiu diretamente na implementação prática do 5G. Uma situação inversa ocorreu em países como a Espanha, que tiveram de adotar o lockdown exatamente no momento em que as redes eram postas em campo e ajustadas.
No leilão do ano que vem, a principal disputa entre as operadoras será pelas faixas em torno dos 3,5 GHz, mesma frequência utilizada no restante do planeta para as principais implementações da quinta geração. A autoridade responsável por todo o processo, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), oferecerá ainda fatias de 700 MHz e 2,3 GHz (ociosas em algumas regiões) e 26 GHz (as chamadas ondas milimétricas, com altíssima largura de banda e específicas para altíssimo desempenho da rede, destinadas a aplicações críticas). Essa última, por questões de alcance de sinal, bastante reduzido por causa da alta frequência, exigirá grandes investimentos em infraestrutura como antenas, rádios e fibra ótica interligando servidores e core de rede.
Nos 3,5 GHz, a principal das frequências e certamente a primeira a ser implementada, haverá a oferta de quatro faixas no ar por onde trafegam os sinais das operadoras. A largura de cada uma será de 100 MHz. O feixe total de frequências a ser disputado vai, desta forma, segundo a documentação técnica do leilão, de 3,3 GHz a 3,6 GHz, atendendo todas as principais teles brasileiras. Elas executarão, quando da implementação da rede, uma “sintonia fina” para que não haja interferências de sinal entre elas e com outros serviços de telecomunicações.
Um dos pontos ainda em discussão no edital final do leilão, e que foi tema de muita análise em 2020, em consultas públicas e reuniões da Anatel, é a questão das contrapartidas. As operadoras que adquirirem as frequências terão de se comprometer com a ampliação das redes (inclusive investindo em gerações móveis anteriores, para melhorar serviços de voz e dados) e também em levar a infraestrutura de conexão a áreas mais remotas do País. Há ainda a previsão de cobrir, com infraestrutura para serviços de voz e internet, uma parte considerável da malha rodoviária federal do Brasil.
Outra das questões importantes, envolvendo as contrapartidas, está no fato de que a anatel vem conduzindo testes para eliminar a possibilidade de conflitos entre o 5g e transmissões de tv na chamada banda c, também denominada tvro, destinada para programação aberta via satélite, captada por antenas parabólicas. O uso desse equipamento nos grandes centros diminuiu, mas sua importância ainda é altíssima no interior do brasil. Uma das ideias em debate é incluir nos editais uma forma de mitigação das possíveis interferências que seria assumida pelas operadoras (já há um acordo nesse sentido), com o fornecimento de filtros para as antenas para evitar conflitos de sinal com o 5g.
Operadoras e fornecedoras da tecnologia 5G são unânimes: o governo tem de, na medida do possível, diminuir o viés arrecadatório para que haja fôlego para direcionar recursos para a implementação da infraestrutura de quinta geração.
“Não basta dizer: vamos ligar o 5G e tudo começa a funcionar”, diz Marcio Carvalho, diretor de Marketing da Claro. As operadoras precisam de clientes que comprem os serviços de 5G para justificar os gastos com leilão e instalação da infraestrutura.
Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina, defende um leilão seguindo pela linha do investimento na infraestrutura, para fazer o 5G decolar o mais rapidamente possível. “O bolso das operadoras é um só: ou elas investem em frequência ou na infraestrutura das redes”, diz o executivo da Ericsson. Segundo Ricotta, um estudo interno da empresa mostra que um aumento de 10% da cobertura do 5G geraria R$ 30 bilhões por ano a mais de impostos.
A questão de infraestrutura é crítica e certamente haverá dificuldades e lacunas em várias regiões do País, segundo membros do setor. Além disso, existem outros desafios a ser enfrentados, como o da enorme confusão de legislações municipais para a implementação de antenas, por exemplo. A capital paulista, apesar de ter flexibilizado a instalação de pequenas estruturas de transmissão usadas em redes 5G, é uma das cidades com leis mais restritivas em relação à colocação de antenas.
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