
15 de junho de 2012 | 03h11
Nem mesmos as cores que aparecem cá e lá nas xilogravuras de Goeldi (1895- 1961) são capazes de lhes tirar o ar pesado, melancólico. Elas o amenizam, claro - são momentos de leveza em meio às grandes áreas pretas, feitas a partir das matrizes de madeira talhada. Estão no guarda-chuva do homem solitário, na calçada diante de casarões tenebrosos, na saia da mulher sonâmbula.
Cenas que a exposição Oswaldo Goeldi: Sombria Luz reúne em cerca de 250 obras. Na maior mostra já feita sobre o artista carioca, estão gravuras
e desenhos produzidos por ele a partir da década de 20 - momento em que Goeldi se tornou Goeldi, como define
o curador Paulo Venancio Filho.
Nos trabalhos, é possível identificar diferenças entre ele e os outros expressionistas. "Goeldi usa elementos mínimos, não é panfletário nem sentimental; suas obras têm certa sobriedade", observa o curador. Ainda assim, explora temas recorrentes entre os artistas do movimento, como a tensão entre
a vida e a morte.
Em relação ao modernistas brasileiros, Goeldi também destoou. Ao retratar a vida urbana do Rio de Janeiro e de seus personagens, revelou um lado mais obscuro do País - um "Brasil subterrâneo", como diz Venancio. "Ele é uma nota dissonante dentro do modernismo, que tende ao tropical, ao exuberante; e talvez o lado revelado por Goeldi seja mais verdadeiro."
Depois de desvendar a trajetória do artista ao longo de quatro décadas, você pode ainda saber mais sobre o ambiente em que elas foram produzidas. Na Sala Paulo Figueiredo, o ateliê que ele mantinha em seu apartamento no Leblon foi reconstituído. Objetos pessoais, fotografias, cartas e documentos foram espalhados pelo espaço, com a ajuda de sua sobrinha-neta, Lani.
É mais uma forma de revelar outra faceta de Goeldi - que, até então, era tão obscura quanto suas obras.
Marina Vaz
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