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Extremistas atacam mulheres em cidade do Iraque

Segundo militar enviado a Basra 'existe repressão'; 42 morreram em três meses.

Por Mona Mahmoud e Mike Lanchin
Atualização:

O chefe da polícia de Basra, Abdul Jalil Khalaf, afirmou que a cidade iraquiana está sendo palco de uma campanha de violência contra mulheres, realizada por extremistas religiosos. "Existe uma terrível repressão contra mulheres em Basra. Eles matam mulheres, deixam um pedaço de papel nos vestidos delas ou vestem estas mulheres com roupas indecentes, para justificar seus crimes horríveis", disse à BBC o militar, enviado à Basra em 2007 pelo primeiro-ministro Nouri Maliki para impor a ordem na cidade. Entre julho e setembro de 2007, 42 mulheres foram mortas. Os números diminuíram em outubro. Mulheres entrevistadas pela BBC na cidade afirmaram que não ousariam sair pelas ruas de Basra sem usar os tradicionais trajes muçulmanos. Khalaf, por sua vez, acrescentou que, em um caso, uma mulher foi morta em casa, junto com o filho de 6 anos. Segundo boatos, a criança teria sido concebida em um relacionamento adúltero. O general Khalaf afirma que a polícia, com freqüência, tem medo de realizar investigações mais minuciosas a respeito desses crimes. "Os familiares (das vítimas) hesitam em denunciar os crimes, temendo um escândalo ou porque não acreditam que a polícia possa solucionar esses crimes." Uma advogada de Basra, que conversou com a BBC por telefone e não quis se identificar, afirmou que os ataques contra mulheres estão ocorrendo na cidade "a cada dois ou três dias". Segundo a advogada uma estudante universitária foi baleada nas pernas por não usar o véu islâmico. A própria advogada já recebeu advertências de homens, que falaram que ela deveria ir para casa e se casar, em vez de trabalhar. Uma funcionária do governo em Basra, mãe de seis filhos, que se identificou apenas como "Um Zeinab", disse que quase foi atropelada por um motociclista quando esperava o ônibus para ir para o trabalho. "Estava usando uma camisa e uma saia e um pouco de maquiagem como faço sempre. Esperava o ônibus quando a motocicleta veio em minha direção, a toda velocidade", disse. A moto derrapou e caiu antes de acertar Zeinab. "Mas duas mulheres foram mortas no bairro de al-Makal, há dois dias. As pessoas disseram que elas foram alertadas e então atiradores chegaram e mataram as mulheres. Uma delas, na frente dos filhos", acrescentou. Abdul Jalil Khalaf afirmou que "criminosos perigosos" estão tentando prejudicar a estabilidade de Basra. Khalaf acrescentou que a repressão contra as mulheres já ocorria enquanto os soldados britânicos ainda estavam na cidade, antes de sua retirada em setembro. Outros culpam as milícias xiitas, que teriam se infiltrado na polícia e tentam assumir o controle de Basra. Um porta-voz de um dos maiores grupos xiitas, do grupo do clérigo radical Moqtada Sadr, disse à BBC que seus integrantes não atacam mulheres nem tentam implantar a força a lei islâmica para as mulheres. Mas ele não descartou a hipótese de outros grupos tentarem fazer isto. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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