Falha técnica e humana causou queda de voo da Noar

PUBLICIDADE

Por Angela Lacerda
Atualização:

Falhas técnicas seguidas de falhas humanas levaram à queda da aeronave LET410, da Noar Linhas Aéreas, na manhã de 13 de julho de 2011, provocando a morte dos 14 passageiros e dois tripulantes a 100 metros da Praia de Boa Viagem, no Recife. Esta é a conclusão do relatório final da investigação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa) apresentado nesta sexta-feira pelo coronel Fernando Camargo, depois de uma reunião de cinco horas e meia com familiares das vítimas em um hotel da cidade.O relatório final confirma que uma falha mecânica - o rompimento na base da palheta metálica de número 27 da turbina esquerda do LET-410, fabricado pela checa LetAircraft, que ocasionou a perda de potência do motor esquerdo - foi o fator desencadeante de vários outros fatores que culminaram com o acidente. O motor esquerdo havia sido trocado três dias antes pelo fabricante. A palheta de número 27 era uma das 51 que foram reaproveitadas. Tinha 1.996 horas de uso e estava dentro do prazo de validade.O Cenipa indicou como outros fatores que contribuíram para o acidente, falha no treinamento dos pilotos, falhas na fiscalização realizada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), divergência entre o check list de emergência e o manual de voo da aeronave, tensão no momento da emergência, divergência entre documentos de orientação de voo.O voo 4896 caiu três minutos depois de decolar do Aeroporto dos Guararapes, com destino a Mossoró (RN). O piloto pediu autorização para fazer um pouso de emergência, mas não conseguiu, caindo em um terreno desocupado na Avenida Boa Viagem, entre os municípios de Recife e Jaboatão dos Guararapes.De acordo com o Cenipa , o treinamento dos pilotos para caso de emergência por falha de motor foi insuficiente porque foi realizado com altura de 400 pés, quando o manual indicava 1,5 mil pés. O procedimento de retorno da aeronave ocorreu justamente a 400 pés. Também apontou que a aeronave decolou com um excesso de peso de 73 quilos, devido a um problema no software, embora tenha descartado que isto tenha contribuído para a queda.O relatório do Cenipa não tem caráter punitivo. Visa a identificar causas do acidente para evitar que novos acidentes venham a ocorrer pelos mesmos motivos. Somente a investigação da Polícia Federal, com previsão de conclusão para o final deste ano, irá indicar os culpados. IndignaçãoOs familiares de vítimas informaram que irão elaborar um documento para entregar à Anac questionando sua atuação. Édson Andrade, que perdeu o filho Raul, de 24 anos, destacou, depois da apresentação do Cenipa, que a aeronave havia passado por manutenção um mês antes do acidente e teve o aval da Anac. Após o acidente, no entanto, identificou 148 infrações.Mãe de Raul, Taciana Giuerra, mostrou indignação. "Soubemos aqui que as inspeções da Anac são feitas por amostragem, que a Anac não tem gente suficiente", afirmou. "Todos nós precisamos ter segurança, precisamos de procedimentos que deem segurança a nós, passageiros." Eles também aguardam a indicação dos responsáveis pela PF. "Vivemos no País da impunidade", afirmou Roseana Oliveira, que perdeu a irmã, a engenheira Maria da Conceição, de 45 anos, no voo. Nove das 16 famílias entraram em acordo com a Noar e receberam indenizações.A Noar garante que as aeronaves, as manutenções, os treinamentos e habilitações dos pilotos estavam em dia e regularizadas. Afirmou que os treinamentos foram feitos pela Team, do Rio de Janeiro, que também operava com este modelo de aeronave. O piloto Ricardo Miguel, último a pilotar a aeronave, responsabilizou o fabricante da aeronave, o fabricante do motor e a Anac. "Nós estamos condenando esta aeronave, tanto que nós perdemos a confiança. É uma aeronave que não era para estar aqui com a gente", afirmou.A Anac disse desconhecer as alegações da Noar e que irá analisar as recomendações do Cenipa, que vai divulgar o relatório final no seu site, na segunda-feira, 22. A Noar Linhas Aéreas estava há um ano em atividade e teve operação suspensa logo depois do acidente.Ela não pediu renovação para continuar operando com a sua segunda aeronave, também um LET-410, que está sendo vendida. A empresa, que tinha 100 funcionários, dos quais mantém dois, aguarda os laudos do Cenipa e da Polícia Federal para decidir seu futuro. A ideia é dar continuidade, mas com outro tipo de aeronave, mas nenhum outro modelo deste porte é homologado no Brasil. A Noar operava percursos curtos, no Nordeste.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.