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Familiares participam de reconstituição em Congonha

Por THAISE CONSTANCIO
Atualização:

Com uma hora e meia de atraso, policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da 29ª Delegacia de Polícia (Madureira) chegaram ao Morro da Congonha, em Madureira, zona norte do Rio, para fazer a reconstituição da morte da auxiliar de serviços gerais Claudia da Silva Ferreira, de 38 anos. Uma policial representará o papel da vítima na simulação, que estava marcada para as 9h. Um boneco foi confeccionado para ser usado na reprodução do momento em que Claudia foi arrastada. Agentes da Core analisaram a área para checar a presença de traficantes. Os oito policiais militares do 9º Batalhão (Rocha Miranda), que em depoimento afirmaram ter participado da operação de 16 de março, quando Claudia foi morta, foram intimados pelo delegado Carlos Henrique Machado, titular da 29ª DP. Familiares e testemunhas também participarão da reconstituição. "Espero que eles cheguem à conclusão de que foram os policiais que mataram a minha esposa. Não teve confronto naquele dia", disse o viúvo Alexandre Fernandes da Silva, de 41 anos. Inicialmente, os policiais disseram que houve um tiroteio na comunidade no dia 16 de março. Depois mudaram a versão e afirmaram que Claudia já estava morta quando eles chegaram. O local em que Claudia foi baleada sofreu modificações. Vizinhos capinaram a mata que havia ali. Em depoimento, os policiais disseram que não viram Claudia por causa do mato. A polícia tentar reconstituir a cena, com o mato que foi deixado no local da capina. Os policiais disseram ainda que havia traficantes numa escada, depois do local em que a auxiliar foi baleada. Nessa escada, um dos advogados da defesa, Nélio Andrade, disse ter encontrado hoje cápsulas de bala, além de relógio e uma mochila, que seriam indícios da presença de seguranças.Participa da reconstituição Ronald Felipe Soares, de 18 anos, que testemunhou o momento em que Claudia foi baleada. O jovem, que teve a prisão temporária decretada por associação para o tráfico, está algemado e veste a roupa que identifica detentos da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap). Os policiais militares Rodrigo Medeiros Boaventura, que comandava a operação, e Zaqueu de Jesus Pereira Bueno, que também estão presos temporariamente por 30 dias, não estão algemados e usam o uniforme da corporação.Ronald contou que passou no local no momento em que Claudia foi baleada. Ele disse ter visto três traficantes com pistolas e um policial militar com fuzil. O rapaz disse, em depoimento, que já teve envolvimento com o tráfico de drogas, mas que atualmente vinha trabalhando como vendedor de balas.O advogado Jorge Carneiro Mendes, que defende o policial Rodney Miguel Archanjo, disse que vai usar informações do GPS da viatura na defesa dos policiais. Os vizinhos de Claudia alegam que o socorro demorou 40 minutos, mas os policiais afirmam que chegaram ao local em 5 minutos. Será usado um boneco para reproduzir o momento em que a filha de Claudia, de 18 anos, encontrou a mãe caída na Rua Joana Resende.ChegadaUma moradora, que preferiu não se identificar, afirmou que, logo que chegaram ao morro, os policiais mandaram todos voltarem para suas casas. "Eu fui buscar minhas cartas (a correspondência nas favelas é entregue na Associação de Moradores) e eles estavam com as armas apontadas para mim", disse."Eles entraram como se fosse um cenário de guerra, com armas em punho. Uma prática comum nas comunidades. Ninguém me abordou, não mostrei nenhum documento porque estou de terno, mas os meninos daqui, pobres, foram todos revistados. Isso é preconceito, não tem outro nome", afirmou o advogado da família, João Tancredo, sobre a chegada dos policiais à Congonha.

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