Farc: Rebelde que matou chefe fala em crise interna

'O que fiz, outro vai fazer', diz Pablo Montoya; 'recompensa e cansaço são incentivo'.

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Por Cláudia Jardim
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O guerrilheiro que assassinou Ivan Ríos, líder das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), disse que traiu um dos principais membros do secretariado da guerrilha por ter sido pressionado pelo Exército, e advertiu que podem ocorrer outros atos semelhantes no interior do grupo rebelde. "Não sei o que irá acontecer e o que vão fazer as Farc. O que eu fiz, mais de um nas Farc vem pensando em fazer, e acredito que logo mais outro vai fazer", afirmou. O ex-guerrilheiro, que era guarda-costas de Ivan Ríos, disse que o crime cometido na semana passada se repetirá por duas razões: o estímulo representado pela oferta de recompensa e o cansaço dos rebeldes que combatem na guerrilha. O assassinato de um líder das Farc realizado por outro rebelde não tem precedentes nos 48 anos de fundação do grupo. "Esse é o primeiro caso que se dá, em que se elimina um chefe máximo - o que não é fácil", disse Pedro Pablo Montoya, apelidado como "Rojas", em uma entrevista coletiva no quartel do batalhão do Exército colombiano de Pereira, região central do país, na noite deste sábado. Membro das Farc há 16 anos, Rojas disse ter sido pressionado pelo Exército, que havia interceptado as chamadas telefônicas de Rios e teria localizado o acampamento em que se encontrava. O ex-guerrilheiro disse que a tropa já sofria com a escassez de alimentos. "Esta situação ocorreu pela pressão do Exército colombiano. Levávamos 15 dias, a alimentação acabava e em qualquer momento entrariam as tropas (do Exército)", Rojas, também alegou ter matado Rios para salvar a própria vida, a de sua companheira e a de outro rebelde. Recompensa Rojas convenceu Ivan Ríos a se afastar das tropas durante um combate com o Exército. Longe dos demais rebeldes, matou-o com um tiro na testa e cortou a sua mão direita, entregando-a ao Exército para comprovar a identidade do comandante das Farc. O Exército colombiano havia oferecido US$ 2,6 milhões para quem entregasse Rios "vivo ou morto". Rojas disse que espera receber a recompensa. "Que cumpram. Eu não espero promessas. Se se fala, se cumpre, para que exista credibilidade", advertiu. O pagamento da recompensa coloca o Exército colombiano também em uma encruzilhada. Se o Ministério Público optar por julgar Rojas por homicídio, a estratégia do governo de contar com a colaboração de guerrilheiros desertores fica prejudicada. Outra saída é o pagamento da recompensa. De acordo com o jornal colombiano El Tiempo, o governo pode optar por uma saída pouco utilizada que permite ao Procurador Geral da República terminar com toda a ação penal contra Rojas "se sua colaboração foi efetiva para desmantelar uma organização criminosa", interpreta o jornal. "Esperamos que com esta situação que se apresentou aumentem as deserções. As FARC estão machucadas, estamos chegando ao fim do fim", disse o comandante do Exército colombiano, general Mario Montoya. O assassinato de Ríos foi o segundo grande golpe para a guerrilha em menos de uma semana. No dia 1º, uma incursão do Exército colombiano em território do Equador em busca de um acampamento guerrilheiro resultou na morte de Raúl Reyes, porta-voz das Farc. A ação desencadeou uma crise diplomática entre Equador, Colômbia e Venezuela. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, chegou ao Equador neste domingo para iniciar uma investigação sobre a invasão militar colombiana. Na sexta-feira, durante a reunião do Grupo do Rio realizada na República Dominicana, os presidentes equatoriano, Rafael Correa, colombiano, Álvaro Uribe, e venezuelano, Hugo Chávez, selaram uma trégua simbólica com um aperto de mãos dando por encerrado o conflito. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.