Filas e erros no registro eleitoral podem atrasar votação

Especialistas antecipam problemas, mas vencedor 'não será dúvida'.

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Por Laura Smith-Spark
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Em 2000, o problema foram cédulas mal-perfuradas, recontagens e decisões judiciais na Flórida. Em 2004, alguns eleitores tiveram que esperar oito horas para votar em Ohio, por causa das longas filas. Quatro anos depois, um estudo do Centro de Pesquisas Pew advertiu para a possibilidade de uma "tempestade perfeita" tomar criar caos nas secções eleitorais - alimentada por um número recorde de eleitores e escassez de mesários. Um outro relatório sobre 10 Estados-chave, feito pela Century Foundation and Common Cause, revelou que "problemas significativos nas funções básicas da administração do sistema eleitoral americano persistem e, em uns poucos casos, se agravaram". Não chega a ser surpreendente que tanto o Partido Democrata quanto o Republicano contrataram advogados para se preparar para disputas acirradas em torno da identidade dos eleitores, defeitos nas máquinas para votar e apuração de votos com margem mínima de vantagem para um candidato. Várias ações foram iniciadas na Justiça por causa do registro de eleitores e voto por correspondência. Em uma delas, o Partido Republicano em Ohio exigiu acesso à lista de eleitores recém-registrados cujos detalhes não batem com os da sua carteira de motorista ou de seu seguro social - uma iniciativa que pode permitir que ativistas contestem o direito de voto de até 200 mil pessoas. A Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu contra o partido e em favor da Secretária de Estado de Ohio, Jennifer Brunner, uma democrata, que argumentou que a maioria dos casos se deve a erros no registro e não a fraude. Em uma indicação do nível de tensão no Estado, desde então o gabinete de Brunner vem sendo alvo de uma saraivada de e-mails e telefonemas ameaçadores, e os perpetradores disso são, aparentemente, encorajados por radialistas de direita. O Estado teve ainda que fechar seu website brevemente depois de um ataque de hackers. Grande comparecimento No dia da eleição, Brunner prevê que o maior desafio para Ohio será o enorme número de pessoas nas secções eleitorais, com a possível presença de cerca de 80% dos eleitores registrados, em comparação a 70% em 2004. Em preparação para o voto, o Estado aperfeiçoou o treinamento de mesários e funcionários eleitorais, criou sistemas de apoio com cédulas de papel caso a votação computadorizada apresente problemas e tentou resolver as questões ligadas ao registro de eleitores antes desta terça-feira. Brunner não acha que o caos de 2004 vai se repetir, mas diz que a grande escala da operação faz com que "nenhuma eleição se realize com 100% de tranqüilidade". "Eu fiz todo o possível para garantir que aquilo jamais ocorra novamente em Ohio", disse a Secretária de Estado. "Haverá filas porque muitas pessoas estarão votando, mas eu acho que nós planejamos adiantado e achamos formas de fazer com que estas filas andem depressa." Eleitores ausentes Ohio não estará sozinho na grande afluência de eleitores às urnas. Desde 14 de outubro, 13 Estados cruciais já receberam 3,4 milhões de novos eleitores registrados em comparação a 1,8 milhão em 2004, de acordo com a organização Catalist. Vários Estados e organizações pelos direitos dos eleitores encorajaram as pessoas a tirar proveito do voto antecipado ou por correspondência para reduzir o risco de que longas filas afastem os eleitores das urnas nesta terça-feira. Seus esforços, até agora, funcionaram tão bem que vários eleitores aproveitaram para votar antecipadamente na Flórida, Carolina do Norte e Virgínia - mesmo que, em alguns casos, tivessem que esperar por várias horas para votar. O governador republicano da Flórida, Charlie Crist, tomou até medidas para prorrogar o período de votação de oito para 12 horas para tentar reduzir as filas. Um terço dos eleitores americanos podem ter votado antes desta terça-feira, em comparação a um em cinco em 2004. A iniciativa de ambos os principais partidos para arregimentar novos eleitores levou a queixas dos republicanos de que organizações comunitárias com tendência esquerdista estão registrando eleitores fictícios. Os democratas retrucaram acusando os republicanos de tentarem suprimir eleitores legítimos e minorias alienadas. Os grupos de defesa dos direitos dos eleitores estão preocupados especialmente com: * Leis para a identificação de novos eleitores em Indiana, Arizona, Flórida e em outras partes, onde os críticos dizem que as exigências para apresentar documento com foto discrimina pobres, idosos e minorias. * Problemas para eleitores cujas casas estejam em processo de confisco por falta de pagamento, fazendo com que seu endereço não seja mais o mesmo do registro eleitoral inicial, e eles só podem votar em cédula provisória. * Esforços dos partidos em alguns Estados de procurar listas de pessoas que perderam suas casas por falta de pagamento das hipotecas como forma de desqualificar potenciais eleitores - mesmo que muitos continuem morando em suas casas por algum tempo depois da execução da sentença de retomada do imóvel. * Uma escassez de máquinas para votar em algumas áreas com grandes comunidades de minorias étnicas, especialmente na Virgínia, onde um grupo de defesa dos direitos civis entrou com ação judicial alegando que os eleitores negros podem ser prejudicados por longas filas. * Contestação de registro ou identidade nas urnas, o que pode fazer com que longas filas se movam lentamente e pode fazer com que eleitores se sintam intimidados. 'Confusão' O "Rock The Vote", um grupo apartidário que encoraja o registro de eleitores, especialmente entre os mais jovens, também terá representantes em algumas secções eleitorais e criou um número de telefone gratuito para os eleitores chamarem caso tenham problemas. O grupo uniu forças com outros para criar um pool nacional de especialistas em eleições e advogados que podem ser consultados sobre questões diversas nesta terça-feira. Os esforços estão se concentrando em Estados-chave - Ohio, Flórida, Pensilvânia, Carolina do Norte, Virgínia, Colorado e Novo México entre eles - onde o clima pode ser mais tenso e as filas para votar, mais longas. O grupo já entrou em ação para ajudar os estudantes da universidade Virginia Tech que foram informados por funcionários eleitorais, erroneamente, de que, caso se registrassem para votar na Virgínia, longe da casa dos pais, correriam o risco de perder suas bolsas de estudo e cobertura do seguro de saúde. Mas a maioria dos jovens eleitores conhece seus direitos e tem entusiasmo em votar, sugerindo que o comparecimento às urnas será alto em todo o país, disse uma integrante do grupo. "Sem dúvida" A maioria dos observadores não prevê uma repetição dos problemas com as máquinas de votar nas dimensões observadas em 2000 na Flórida, quando uma decisão da Suprema Corte sobre sua contestação na contagem de votos acabou dando a George W. Bush a Presidência. A contestação havia sido complicada pelos fragmentos de papel ainda presos nos orifícios perfurados nas cédulas pelos eleitores que haviam dado seus votos. Algumas delas tinham apenas uma marca no papel ao invés de um furo. A boa notícia, de acordo com Richard Hasen, especialista em legislação eleitoral da Faculdade de Direito em Los Angeles, é que seja qual for o problema que surgir em 2008, ele não espera que o resultado seja colocado em dúvida. "Há uma boa chance de que em algum lugar dos Estados Unidos haverá máquinas quebradas, ou problemas nas secções eleitorais onde as filas são longas demais ou haverá problemas com listas de registro de eleitores, mas eu não acredito que os problemas serão tão grandes que a identidade do próximo presidente dos Estados Unidos seja colocada em questão", disse Hasen. "Para isso acontecer, a eleição teria que ser extremamente apertada em um Estado-chave, não em termos de porcentagens mas do número de votos." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.