Formação de planetas rochosos é inevitável, sugere simulação

Modelo foi criado para tentar resolver um aparente paradoxo dentro do processo de formação de planetas

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Por Carlos Orsi
Atualização:

Dos mais de 200 planetas já descobertos girando ao redor de outras estrelas que não o Sol, a ampla maioria é de gigantes gasosos - mais parecidos com Júpiter ou Saturno que com planetas de rocha, como a Terra ou Marte. Mas uma nova simulação de computador, descrita na edição desta semana da revista Nature, indica que planetas rochosos são um produto quase inevitável dos discos de poeira e gás que cercam estrelas jovens. "O que é menos certo é se os gigantes gasosos que observamos lá fora tenderiam a engolir ou expelir esses planetas no início da vida do sistema planetário", diz um dos autores do novo trabalho, Mordecai-Mark Mac Low, do Instituto Max Planck de Astronomia. "O que nosso trabalho sugere é que, se estivermos certos, uma vez que se tenha um disco como os observados, a formação de planetas-anões, pelo menos, deve se dar muito depressa". A simulação foi criada para tentar resolver um aparente paradoxo na teoria da formação de planetas, que prevê o surgimento de corpos cada vez maiores a partir de colisões entre rochas e poeira nos discos em torno das estrelas. O problema é que, a partir do momento em que os rochedos espaciais atingem um certo tamanho, seria de se esperar que novas colisões os despedaçassem, interrompendo o crescimento do novo planeta. Além disso, o gás no disco deveria roubar energia desses rochedos, levando-os a cair em direção à estrela. O novo modelo, no entanto, mostra que a turbulência e o atrito do gás tendem a aumentar a aglomeração de rocha e poeira em torno dos rochedos maiores - como o fluxo de um rio pode depositar material em torno de uma pedra no meio da correnteza -, levando a um crescimento acelerado, até o ponto em que a atração gravitacional entre os rochedos causa a formação de planetesimais, corpos suficientemente grandes para não serem afetados pela resistência do gás.  Mac Low reconhece que ainda há muito espaço para melhorar o modelo usado na simulação, aperfeiçoando a distribuição inicial de partículas no gás e os efeitos de campos magnéticos. "Mas ainda acreditamos que as propriedades das interações entre gás e rochas que descrevemos serão a solução definitiva para o problema", afirma. Cinco oceanos Em outro trabalho publicado na Nature, uma equipe de pesquisadores dos EUA e México descreve a análise de características de uma nuvem protoestelar de categoria 0 - o tipo mais jovem de estrela nascente. Como explica o astrofísico Ramiro de la Reza, do Observatório Nacional, "observar o nascimento de uma estrela é coisa muito difícil, já que a estrela e seu disco estão embebidos, ou escondidos, em um envoltório" de gás e poeira. No caso da observação descrita na Nature, os pesquisadores informam ter encontrado sinais de água, emanando na região interna do envoltório. Esses sinais - sob a forma de radiação infravermelha - permitem aos cientistas ter uma idéia da dinâmica no interior da nuvem, incluindo temperatura e velocidade das partículas e, assim, acompanhar a formação de um disco protoplanetário denso - onde poderão, um dia, surgir planetas. De acordo com nota distribuída pelo Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, que administra o Telescóprio Espacial Spitzer, responsável pelas observações, o trabalho fornece um primeiro vislumbre do caminho que a água percorre nos primórdios de um sistema planetário. Segundo o modelo elaborado a partir dessas observações, a massa de água - sob a forma de vapor - presente seria equivalente à do planeta Terra inteiro. Condensado, esse vapor seria suficiente para preencher os oceanos terrestres cinco vezes. Os autores do trabalho destacam que, de 30 protoestrelas observadas, a descrita no trabalho - NGC 1333-IRAS 4B - é a única a mostrar essa assinatura de água. Eles especulam que isso pode ser explicado pela orientação favorável da estrela em relação à Terra, facilitando a observação, ou representar um estágio muito curto do desenvolvimento estelar. "Seria interessante se esse caso, único por enquanto, fornecesse uma visão de um fenômeno muito breve, que seria a formação de um disco protoplanetário", diz Ramiro.

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