Fraude leva revista <I>Science</I> a rever política editorial

Relatório sugere medidas para tentar evitar a repetição do escândalo provocado por pesquisas sul-coreanas com células-tronco, que se revelaram falsas

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Por Agencia Estado
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Uma das mais importantes revistas científicas do mundo, a americana Science, decidiu adotar algumas novas salvaguardas contra fraude, depois que uma pesquisa falsa sobre células-tronco, realizada na Coréia do Sul, chegou às manchetes e foi desmascarada há um ano. Segundo conclusões de uma análise independente, a Science submeteu os trabalhos, hoje desacreditados, a um escrutínio cuidados antes publicá-los, em 2004 e 2005, e seguiu corretamente os procedimentos-padrão para detectar problemas. É impossível evitar sempre todo e qualquer tipo de fraude deliberada, advertiram os analistas. Mas o clima cada vez mais competitivo no mundo da ciência, somado ao prestígio de sair na Science, cria incentivos para a desonestidade, que exigirão novas medidas para detectar embustes, afirma o relatório. "Preocupamo-nos que a ciência continue a ser vista pelo público como um empreendimento no qual a verdade é suprema", disse o químico John Brauman, que chefiou o inquérito requisitado pela revista. Entre suas principais recomendações à e a outras revistas de grande prestígio está destacar os artigos de "alto risco" - estudos com potencial de atrair a atenção pública ou influir na formulação de políticas - para um escrutínio extra. Isso pode vir a incluir uma exigência de apresentação dos dados originais que deram base ao trabalho, ou entrevistas com co-autores. O editor-chefe Donald Kennedy agradeceu os "conselhos duros", e disse que sua equipe estuda como implementá-los. Ele estima que apenas cerca de 10% dos estudos publicados a cada ano seriam importantes o bastante para merecer esse tratamento extra. A Science recebeu cerca de 12 mil submissões em 2005, e publicou cerca de 8% dos que passaram por uma revisão científica. A despeito disso, Kennedy reconhece que provavelmente nem mesmo as novas medidas teriam detectado o que uma comissão de inquérito da Universidade de Seul classificou como uma fraude elaborada. O cientista Hwang Woo-suk alegava ter extraído células-tronco de um embrião humano clonado, e ter criado células-tronco projetadas especificamente para pacientes individuais. A retratou-se de ambos os artigos.

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