Futuro de Doha será decidido na sexta-feira, diz Amorim

Subsídios agrícolas e acesso a bens industriais são os temas centrais em discussão.

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Por Marcia Bizzotto
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As negociações da Rodada de Doha chegam a um ponto decisivo nesta sexta-feira, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na noite de quinta-feira, depois que mais uma maratona de reuniões entre os sócios da Organização Mundial do Comércio (OMC) terminasse em impasse. "Amanhã temos que saber se é possível ou não terminar tudo", disse o chanceler. Amorim afirmou que as negociações estão em um momento "muito complexo" e que todos têm consciência das dificuldades, mas que prefere não fazer avaliações pessimistas. "Todos fizeram concessões e isso se aplica tanto para as preocupações defensivas como para as ofensivas. Estamos fazendo nosso melhor." Por parte do Brasil, o chanceler disse que agora é hora de fazer cálculos e chegar aos números para decidir até que ponto o país pode ceder. "Esse negócio de pressão comigo não funciona, mas vou ter flexibilidade para chegar a um acordo", afirmou. Concessões Segundo o diretor do departamento econômico do Itamaraty, Carlos Márcio Cosendey, o Brasil aceitará que a possibilidade de proteger o setor industrial do corte geral de tarifas seja limitado a 14% de toda a produção, uma concessão frente à posição anterior do país, que exigia poder proteger 16%. Ao mesmo tempo, Amorim disse entender a importância da implementação de cláusulas anti-concentração para os europeus, que precisam "satisfazer a indústria alemã". "Estamos vendo o que dá para fazer sem ferir o interesse da nossa indústria. Há limites." Esses limites passam também pelos interesses da Argentina, sócio do Brasil no Mercosul e de posição mais protecionista em relação ao setor industrial. O chanceler admitiu que durante as negociações na madrugada de quarta para quinta-feira "houve um momento em que as coisas pareciam muito mal", mas o grupo dos sete principais negociadores decidiu continuar insistindo. Ele defende que o Grupo dos Sete (Brasil, Índia, Estados Unidos, China, Austrália, Japão e a União Européia) deve uma resposta aos demais sócios da OMC, excluídos do processo principal de decisão devido ao novo esquema estabelecido pelo diretor geral da OMC, Pascal Lamy, desde a passada quarta-feira. Críticas Em uma tentativa de facilitar a reconciliação dos principais interesses opostos, Lamy determinou que os pontos de maior discórdia fossem tratados apenas pelo Grupo dos Sete. As decisões tomadas por esse grupo são debatidas, em seguida, com outro grupo restrito a cerca de 30 países, antes de serem comunicadas aos demais 120 sócios da OMC. O sistema foi duramente criticado por vários países excluídos, principalmente a Suíça, cuja ministra da Economia, Doris Leuthard, acusou Lamy de colocá-los "na sala de espera". Excluída dos dois grupos restritos, a Costa Rica divulgou uma carta cobrando do Grupo dos Sete sua responsabilidade nas negociações e exigindo que a culpa de um eventual fracasso da Rodada não seja transferida aos demais sócios, que não participam das reuniões decisivas. "Entendemos que cada um dos sete países (do Grupo dos Sete) tem suas dificuldades", escreveu o ministro de Comércio da Costa Rica, Marco Vinicio Ruiz. "Mas, por favor, não saiam da sala de reunião dizendo que tomaram uma ou outra decisão pensando nos interesses dos países em desenvolvimento que não estavam naquela sala. Não tentem usar os interesses dos demais para explicar seus desentendimentos." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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