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Gordos, bêbados e magros

Fim de ano sempre dá essa bobeira na gente; é um desviar sem fim de assunto.

Por Ivan Lessa
Atualização:

- Puxa, como você engordou! - Puxa, como você emagreceu! É só o que se ouve. Não há sequer aquele nosso simpático e mui brasileiro: - Puxa, você não mudou nada, hem, seu! Mentimos, claro. Esse, nosso feitio. Com isso, no entanto, queríamos e queremos dizer para o outro que estava o mesmo de sempre: gordo, magro, alto, baixo, mas sempre - estava implícito no abração - simpático. Como éramos simpáticos uns aos outros. Capaz de ainda o sermos. Mas estou longe há muito tempo. Desconheço nossas andanças e mudanças. Espero que tenham todos engordado, emagrecido, ido para cá ou para lá, mas que continuemos aprazíveis nos breves, excessivamente breves, encontros sociais. A longo prazo, ou qualquer prazo além de dez minutos, e sempre vinha besteira. Um pequeno desaforo. Sem querer, talvez. Nunca entendi. Agora, que saía empombação, lá isso saía. Em geral tendo a ver com mulher. Nossa, dele, de um amigo dileto. Por aí. Tudo que sei é o que leio nos jornais eletrônicos. Não sei quem engordou, quem emagreceu, quem ficou na mesma. Examino com o maior interesse as diversas opiniões. Essas não mudaram muito. O elenco, ou naipe de personagens, sim. O roteiro, nada. Há a vantagem de não dar em palavrões ou pau na rua em frente ao bar. Nada como a passividade para não se engordar nem emagrecer. Quanto a envelhecer, aí a história muda de figura. Mas não é nada disso que quero dizer. Fim de ano dá essa bobeira na gente. É um desviar sem fim do assunto. Evitar a todo custo perguntar como é que se foi de Natal ou desejar um Feliz Ano Novo. Vamos ao que as almas simples dos supersticiosos convencionou chamar de fatos, que estes são mais sucintos e fáceis de ludibriar a nossos semelhantes do que o deblaterar instável do que dizemos uns aos outros fora da hora de trabalho. *** A imprensa local divulga o dado de que pouquíssimas pessoas conhecem ou entendem as diretivas governamentais britânicas relativas à alimentação saudável, beber e fumar. Isso apesar de alguns milhões de libras gastos no que vivaldinos (talvez bem, talvez mal intencionados) decidiram batizar de "awareness campaigns", ou seja, "campanhas de conscientização". A entidade conhecida nos meios das campanhas e das conscientizações como "Health Survey for England" ("Pesquisa de Saúde para a Inglaterra") revelou que, embora a obesidade no país tenha praticamente dobrado nos últimos 14 anos, dois terços das pessoas, homens e mulheres, não têm a menor idéia de quanto ou como deveriam estar se exercitando. Pausa para meditação: por que a entidade concentra-se apenas na Inglaterra e nos ingleses? A obesidade não é um campeonato de futebol disputado apenas neste canto do Reino Unido. E o País de Gales? A Escócia? A Irlanda do Norte? Estão todos se alimentando direitinho? Fumando menos? Moderaram nas libações? Os irlandeses? Os escoceses? Não digam. É mesmo, é? Voltando à mesa, como convém. Só 27% dos homens (ingleses) e 31% das mulheres (inglesas) ingerem por dia as cinco porções ideais recomendadas de frutas e vegetais. Os 4% que sobram? São aqueles (ingleses) que optam pela tradição de se manter envoltos num manto de mistério. Tem mais. Apenas um terço dos ingleses possui uma vaga noção de quanto deve beber por dia. Fumar? Não há qualquer prova de que se fuma menos na Inglaterra desde as brutais (lá para eles, fumantes) campanhas ditas de "esclarecimento" e a proibição do cigarro em lugares públicos iniciada, ou deflagrada, no mês de julho de 2007. Fumo passivo? Como um caipira de piada, a entidade muxoxeia, "Num sei, uái!" Uma coisa é garantida: 18 pubs por dia fecham por falta de freguês. Lá se vai mais uma instituição tradicional. No Iraque e no Afeganistão é que não foram parar. A "Health Survey for England", no entanto, garante que andou realizando testes de saliva com as pessoas de nacionalidade inglesa (como? Em que condições?), nunca é demais repetir, e que tudo indica que um grande número delas parou de fumar. Meio vago para uma entidade tão zelosa de números e percentagens. De qualquer forma, parece que está para sair a verba para a instituição continuar suas institucionalidades no decorrer de 2009. Vão engordar, lá. Ah, que vão, vão. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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