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Governo lança guia de redação do Enem

Material para ajudar alunos traz textos que tiveram nota máxima; redação usada como modelo diz que Venezuela é 'ditadura'

Por Rafael Moraes Moura
Atualização:

BRASÍLIA - Após mudar os critérios de correção da redação do próximo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Ministério da Educação (MEC) lançou o guia de redação da prova com o objetivo de orientar os alunos. Uma das redações destacadas chama a Venezuela de "ditadura" e erra a grafia do presidente daquele país. O conteúdo já está disponível no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep): www.inep.gov.br.O guia, de 48 páginas, foi elaborado pela equipe da Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb) do instituto para esclarecer o que é um texto dissertativo-argumentativo, detalhar os critérios de correção e apresentar exemplos de provas que conseguiram a pontuação máxima (1 mil pontos). O Enem ocorre nos dias 3 e 4 de novembro.Segundo a pasta, 1,7 milhão de cópias do guia serão distribuídas até setembro para alunos e professores de escolas públicas. Em maio, o MEC anunciou mudanças no sistema de correção. A principal foi a redução da discrepância máxima entre as duas correções iniciais - de 300 para 200 pontos, o que vai levar a um aumento do número de textos revisados. A pasta também instituiu discrepância limite de 80 pontos dentro de cada uma das cinco competências avaliadas.Queixas em relação à correção marcaram as últimas edições do Enem. Muitos alunos entraram na Justiça para questionar as notas e pedir vistas dos textos. "O filtro é muito mais rigoroso e agora está público e transparente o que se espera de cada competência, como é a avaliação, com pode perder pontos. Tanto o corretor quanto alunos sabem antecipadamente os parâmetros", disse ontem o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, durante entrevista à imprensa. Uma das competências avaliadas é o domínio da norma culta da língua escrita. Logo no primeiro exemplo, o manual destaca a redação "O fim do Grande Irmão", feita por uma estudante do Rio. Ao comentar o uso indiscriminado das redes sociais, a aluna destaca que perfis no Facebook e Twitter servem como "ferramenta política e social para aumentar a credibilidade de determinadas personalidades, como ocorre com Hugo Chaves em sua ditadura na Venezuela". O certo é Hugo Chávez."A participante demonstra ter compreendido a proposta da redação e desenvolvido o tema dentro dos limites estruturais do texto 'dissertativo-argumentativo'", diz o guia. "No desenvolvimento, são apresentados os argumentos que comprovam a opinião negativa da participante sobre a ação das redes sociais" (mais informações nesta página).Ao Estado, o presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa, disse que a estudante usou "a norma culta com perfeição" e aportuguesou o nome do presidente venezuelano. "A comissão entendeu que isso não dá para penalizar. Não é um erro que cause nenhum dano ao conhecimento da estudante", afirmou.Questionado se não causava constrangimentos ao governo destacar uma redação que chama de ditadura a Venezuela, Costa respondeu: "A redação não é avaliada pela sua ideologia. O Brasil é uma democracia que respeita a liberdade de expressão, respeitamos a posição política de cada estudante, independentemente se concordamos". Avaliação. O professor Francisco Platão Savioli, supervisor de gramática e redação do Anglo Vestibulares, elogiou a criação do guia. "Acho muito útil, sobretudo por oferecer exemplificação, com passagens concretas do texto, esclarecendo o que se pede." Platão ressaltou que é importante essa orientação detalhada porque, em geral, há uma dificuldade dos estudantes para entender os "nomes abstratos" de conceitos como coerência, coesão e progressão textual. A partir deste ano, um acordo firmado com o Ministério Público Federal (MPF) permitirá que os estudantes tenham acesso às redações corrigidas apenas para fins pedagógicos. "O que estamos discutindo são os procedimentos de segurança para que (os alunos) tenham acesso. É um direito individual e isso tem de ser preservado, estamos construindo como vão ser os procedimentos", afirmou Mercadante. / COLABOROU PAULO SALDAÑA

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