Greve no setor de transportes paralisa a França

Paralisação é protesto contra reforma de aposentadorias do governo Sarkozy.

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Por Daniela Fernandes
Atualização:

Uma greve nacional para protestar contra a reforma das aposentadorias especiais na França paralisou quase a totalidade dos transportes públicos do país nesta quinta-feira. A mobilização é a primeira grande demonstração contra o governo do presidente Nicolas Sarkozy, que recentemente anunciou que irá aumentar o tempo de contribuição dos funcionários dos setores de transporte, gás e eletricidade dos atuais 37,5 anos para 40 anos. O sistema de aposentadorias especiais beneficia 1,6 milhão de trabalhadores na França, o que representa apenas 6% das aposentadorias no país, mas custa aos cofres públicos cerca de 5 bilhões de euros por ano (cerca de R$ 13 bilhões). Na França, a aposentadoria especial é concedida a grupos específicos, que vão de ferroviários a atores da Comédia Francesa. A greve desta quinta, que também inclui funcionários das estatais de gás e eletricidade, reduziu drasticamente circulação dos trens desde a noite de quarta-feira e deve ser normalizada somente na tarde desta sexta, segundo informou a direção da estatal ferroviária SNCF. Dos 700 trens de grande velocidade (TGV), apenas 46, menos de 7%, devem circular hoje, segundo a SNCF. Inúmeras linhas da malha ferroviária que circulam na periferia estão canceladas e nenhum dos trens que ligam Paris ao aeroporto Charles de Gaulle estão operando nesta quinta. Em Paris, menos de 10% dos ônibus estão circulando e pouquíssimos trens estão operando nas 14 linhas de metrô da cidade, segundo a direção da estatal RATP. Apenas uma linha, totalmente informatizada, opera normalmente. A paralisação está prevista para durar apenas um dia, mas três sindicatos já defendem sua extensão. Para driblar a paralisação, muitos parisienses devem utilizar o serviço de bicicletas lançado pela prefeitura da cidade em julho, mas o número de bicicletas disponíveis (10,6 mil) não será suficiente para atender a forte demanda. A reforma das aposentadorias especiais foi uma das promessas de Sarkozy durante a campanha presidencial. O governo francês quer equiparar o sistema dos regimes especiais ao dos outros servidores públicos, que já passaram a trabalhar 40 anos, como no setor privado. Com isso, passaram a ter direito a uma aposentadoria integral, como determina outra reforma feita em 2003. Para o economista Thomas Coutrot, do Ministério do Trabalho na França, a iniciativa do governo de mudar o sistema de aposentadorias especiais é motivada mais por razões políticas do que econômicas. "O governo quer enfraquecer os sindicatos das estatais. Historicamente eles sempre foram o ponto forte de resistência às reformas neoliberais", disse o economista à BBC Brasil. Em 1995 a França também ficou paralisada por uma greve no setor de transportes depois que o então presidente Jacques Chirac anunciou uma medida semelhante. Os marinheiros e mineiros também recebem aposentadorias especiais, mas não foram incluídos na atual reforma. Outros setores do funcionalismo público que não se beneficiam das aposentadorias especiais, como Educação e os Correios, também se juntaram à paralisação e participam das passeatas previstas ao longo do dia em várias cidades francesas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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