Grupo islâmico se declara vencedor de eleição na Tunísia

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Por TAREK AMARA E ANDREW HAMMOND
Atualização:

Políticos islâmicos moderados declararam-se vitoriosos na primeira eleição democrática da história da Tunísia, enviando a outros países da região a mensagem de que os grupos religiosos, por tanto tempo marginalizados, querem participar do poder na esteira da Primavera Árabe. Os resultados oficiais do pleito de domingo ainda não foram anunciados, mas o partido Ennahda disse que seus funcionários somaram os números divulgados nas seções eleitorais de todo o país. "Os primeiros resultados confirmados mostram que o Ennahda obteve o primeiro lugar", disse o coordenador de campanha Abdelhamid Jlazzi diante da sede do partido, no centro de Túnis. Ao ouvirem a notícia, muitas pessoas começaram a gritar "Allahu Akbar" (Deus é grande), e outras entoaram o hino nacional. Ciente de que algumas pessoas na Tunísia e no exterior veem os políticos islâmicos como uma ameaça a valores modernos e liberais, Jlazzi salientou que o Ennahda não tentará monopolizar o poder. "Não vamos poupar esforços para criar uma aliança política estável na Assembleia Constituinte. Tranquilizamos os investidores e os parceiros econômicos internacionais", afirmou. Caso o resultado se confirme, o Ennahda terá de dividir o poder com partidos laicos. A votação de domingo escolheu os parlamentares que passarão um ano redigindo a nova Constituição e que nomearão um governo provisório, que permanecerá até a realização de eleições no final de 2012 ou começo de 2013. A Tunísia foi o berço da onda de revoltas conhecida como Primavera Árabe que resultaram na queda dos governantes autocráticos da Tunísia, do Egito e da Líbia, além de convulsões no Iêmen e na Síria. O Ennahda é dirigido por Rachid Ghannouchi, um acadêmico que passou 22 anos exilado na Grã-Bretanha devido a perseguições sofridas durante o governo do presidente Zine al Abidine Ben Ali. Ele diz que seu modelo é a Turquia do primeiro-ministro Tayyip Erdogan, um político islâmico moderado em um sistema estritamente laico. Alguns tunisianos, no entanto, o veem com desconfiança, temerosos pela tradição laica que remonta ao presidente Habiba Bourghiba, primeiro governante após o fim do colonialismo francês. O Partido Democrático Progressista, que admitiu sua derrota na segunda-feira, alertou durante a campanha que os valores modernos e liberais do país estariam ameaçados em caso de vitória dos políticos islâmicos. Em nota enviada à Reuters, o PDP disse que "respeita o jogo democrático", "congratula o vencedor e estará nas fileiras da oposição." (Reportagem adicional de Andrew Hammond, em Sidi Bouzid; de Abdelaziz Boumzar, Mohamed Argoubi e Warda Al-Jawahiry, em Túnis; e de Hamid Ould Ahmed, em Argel)

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