Haddad autoriza semáforos piscando de madrugada

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Por CAIO DO VALLE
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O prefeito Fernando Haddad (PT) promulgou nessa segunda-feira, 17, o polêmico projeto de lei que estabelece o funcionamento dos semáforos da cidade de São Paulo no modo amarelo piscante ao longo da madrugada. A medida, proposta pelo vereador Coronel Telhada (PSDB) supostamente para reduzir a sensação de insegurança, é criticada por especialistas de trânsito, para os quais o número de acidentes noturnos poderá aumentar.Publicada no Diário Oficial da Cidade nesta terça-feira, 18, a mudança agora tem 60 dias para ser regulamentada pelo Executivo municipal. Segundo o projeto, caberá à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) "o poder de estabelecer as avenidas e os semáforos que poderão atender" a alteração.A medida aprovada por Haddad difere um pouco da versão original apresentada por Telhada no início do ano, na Câmara Municipal. Em vez de vigorar das 23h às 5h, como queria o vereador militar, o petista estabeleceu que a regra dos faróis em amarelo piscante valerá da 0h às 4h.A tramitação do projeto foi atipicamente rápida no Legislativo do município. Proposto em março, ele foi promulgado pelos vereadores apenas dois meses depois.Na justificativa, o Coronel Telhada argumentou que a questão da segurança é uma das que mais preocupam os paulistanos. Ainda de acordo com ele, "a maioria dos assaltos ocorrem nos cruzamentos durante a madrugada, enquanto os veículos estão parados com o sinal vermelho aguardando o sinal verde para passagem".Por isso, sugeriu a medida, que, reconheceu, não vai resolver toda a violência no trânsito. "No entanto, é possível diminuir a onda de assaltos, e evitar que a monstruosidade dos perversos, em fração de minutos, acabarem com vidas de cidadãos", escreveu.Como o projeto de lei promulgado pela Câmara permite à CET decidir quais vias adotarão o sistema, na prática, pouco é mudado em relação à lei aprovada em 2002, do então vereador e hoje senador Antonio Carlos Rodrigues (PR). Inicialmente, a intenção do vereador era a de que medida valesse para todos os semáforos da cidade.Medida inócuaPara o engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em Transportes pela Universidade de São Paulo (USP) que já trabalhou na CET, o projeto é "inócuo". "Essa lei, que desconhece a realidade, é estapafúrdia. A CET vai fazer exatamente o que técnica manda e o que já faz hoje", diz ele, acrescentando que o Legislativo não deveria se ocupar de uma questão técnica de engenharia de trânsito."É como se os vereadores fizessem um projeto de lei para os médicos informando quando e qual a dosagem de antibiótico eles devem dar para um tipo de paciente. Não dá. Depende de um estudo e isso varia de caso a caso", afirma Ejzenberg.Em sua avaliação, o amarelo piscante não pode funcionar em todos os tipos de vias, porque pode se tornar perigoso. É o caso das avenidas que funcionam com uma rede ordenada de semáforos, como as Avenidas Faria Lima e Juscelino Kubitschek, na zona sul. "No cruzamento das duas, não poderia haver amarelo piscante, porque motoristas que vêm por elas à noite se sentiriam como se todos os faróis estivessem abertos, caso eles funcionassem em amarelo piscante, inclusive nas grandes confluências, onde o risco de colisão é muito maior."De acordo com ele, a medida só é menos insegura, do ponto de vista do tráfego, em semáforos isolados. "Mas o piscante amarelo também não resolve a questão da segurança pública, porque os motoristas inevitavelmente vão dar uma paradinha para olhar se podem ou não seguir. E é nessa hora, o bandido sai de trás do poste e assalta. Aí, como dizem, ''perdeu, playboy''."O que seria mais eficaz, explica Ejzenberg, é a criação de ciclos pequenos de verde e vermelho nos semáforos à noite. "Assim, o próprio motorista consegue modular a sua velocidade. Ainda ao longe ele consegue ver que o semáforo está vermelho e ir mais devagar, sem precisar parar o carro. Quando o farol abre, continua normalmente. É preciso estimular esse comportamento."

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