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HIV não cede no Brasil

Hoje, estima-se que 827 mil brasileiros vivem com o vírus e 13,5% deles (112 mil) não sabem que estão infectados

Por É PSIQUIATRA
Atualização:

Novos números divulgados pelo Ministério da Saúde na última semana mostram que a epidemia de HIV está longe de dar sinais de desaceleração no País. São mais de 41 mil casos novos todos os anos, desde 2010. Hoje, estima-se que 827 mil brasileiros vivem com o vírus e 13,5% deles (112 mil) não sabem que estão infectados.

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As novas infecções têm aumentado entre os homens, sobretudo mais jovens. De 2006 a 2015, elas triplicaram na faixa dos 15 aos 19 anos e dobraram entre 20 e 24 anos. Entre as mulheres, o número de novas infecções tem caído, mas nas mais novas (15 a 19 anos) e naquelas com mais de 60 anos, há um aumento das taxas de detecção.

Levantamento da Secretaria Municipal de São Paulo, também da última semana, reforça a tendência nacional. Apesar de uma queda de 31% de novas infecções na cidade de 2006 a 2015, houve um crescimento de quase 100% na população dos homens de 20 a 24 anos, como mostrou o Estado.

No grupo dos homens que fazem sexo com outros homens (HSH), a epidemia deu um salto significativo. Em São Paulo, em 2006, eles representavam 36,7% das infecções. Em 2015, esse valor passou para 53,2% do total (um crescimento de quase 45%). Os dados do Brasil mostram que o número de casos entre os HSH aumentou de 22,6% para 36,5% do total das novas infecções entre os homens no mesmo período. Esse número é ainda mais importante entre os homens jovens.

Uma análise dos dados da Unaids (Programa da ONU para a Aids), divulgados na semana anterior, revela também uma dificuldade de controle da epidemia no mundo, com 2,1 milhões de novas infecções em 2016, principalmente na faixa entre 15 e 24 anos, em que se estimam 7,5 mil novos casos todas as semanas. Na contramão do que acontece por aqui, os dados mundiais mostram que 90% dos casos entre os jovens se concentram nas garotas, que se contaminam principalmente com homens mais velhos. É o caso típico do continente africano.

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Os resultados brasileiros revelam uma falha importante nas estratégias de combate ao vírus em populações específicas, mais vulneráveis. Entre as garotas mais novas de populações excluídas, pessoas dependentes de crack, profissionais do sexo e homens que fazem sexo com homens, as iniciativas empregadas estão longe de dar conta do recado.

Pensando nos mais jovens, as mudanças de comportamento nesse grupo não estão sendo acompanhadas por novas abordagens, mais modernas e efetivas. Houve também um acanhamento de projetos de educação na área da sexualidade, barrados por uma onda mais conservadora e pela falta de investimento no setor.

O jovem, apesar de mais informado, se preocupa menos com a questão da aids e das demais doenças transmitidas pelo sexo. Eventuais ameaças representadas pelo HIV surtem menos temor em uma geração afastada das fases mais críticas da epidemia, que completa 35 anos em 2016. A resistência ao uso consistente da camisinha cresce em todas as faixas etárias, até nos mais novos. Levantamento do Ministério da Saúde do ano passado já revelava que 45% deles não usam preservativo regularmente, nem mesmo com parceiros eventuais.

Mais conectado, mais liberal e com maior facilidade de encontros mediados pela tecnologia (aplicativos de celular como Tinder e Grindr, por exemplo), esse jovem multiplica sua chance de encontrar novos parceiros. Sem tanto medo e resistente ao uso de preservativo, ele aumenta o risco de se expor ao HIV.

E para mudar o cenário? Voltar a investir em uma política pública de educação sexual nas escolas, discutindo não apenas biologia e doença, mas focando em questões emocionais é um bom começo. Pensar em campanhas de prevenção direcionadas para as populações mais vulneráveis seria outro caminho importante. Além disso, engajar as mídias sociais e aplicativos nessa luta ajudaria a acompanhar as mudanças de comportamento que acontecem com alta velocidade nessa faixa de idade. Para terminar, oferecer na rede pública de saúde estratégias combinadas de prevenção, como o uso de medicamentos (PrEP) em pessoas que se expõem a risco, para evitar novas infecção em grupos vulneráveis. Será que conseguimos sensibilizar todas as partes envolvidas?

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