Igreja usa mídia própria para falar em 'milagre'

Em programas de rádio e TV na internet, religiosos aproveitam para defender a instituição de acusações

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Por Alline Dauroiz
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A Igreja Renascer utilizou na segunda-feira, 19, toda a sua estrutura de comunicação - rádio, TV e portal - para se defender das acusações de negligência no desabamento de domingo e atribuir a um "milagre" não terem ocorrido mais mortes do que as nove registradas. Uma mensagem do comando dizia que a Renascer estava "estarrecida e chocada" com o ocorrido. Veja também: Igreja desabou por falta de manutenção, dizem técnicos Casal Hernandes pode voltar ao Brasil em junho Em tragédia de templo em Osasco, crime prescreveu Interdição no entorno da Renascer deixa 15 pessoas desalojadas Troféu de Kaká não estava no templo; jogador casou no local Casal Hernandes divulga nota sobre desabamento Igreja Renascer divulga lista das vítimas do desabamentoGaleria de fotos: imagens do local e do resgate às vítimas Todas as notícias sobre o desabamento na Igreja Renascer    Na maior parte do tempo, porém, a tragédia foi ignorada nas emissoras da entidade. "Venha estar conosco nas Igrejas Renascer em Cristo, que continuam com suas atividades normais." Na internet, pastores e seguidores da Renascer afirmaram que o acidente ocorreu porque "Deus sabe o que faz" e que "tudo estava sob controle absoluto de Deus". "Vamos agradecer a Ele esse grande livramento: se o teto tivesse caído na hora do culto, agora poderíamos contar mais de 500 mortos. Louvemos a Deus", dizia uma mensagem no site da Igreja. Contrastando com o clima de consternação geral, um pastor disse no início da tarde de ontem, na Rádio Gospel FM (90,1 MHz, em São Paulo, emissora da Renascer), que a segunda-feira era um dia de "muitas vitórias e milagres", apesar do ocorrido. Outro apresentador falou que "jamais houve irresponsabilidade na Renascer". "Temos toda a documentação, laudos, vistorias", declarou. Em seguida, disse que "Satanás está criando mentiras sobre o desabamento". Também foram feitos apelos na Rede Gospel de Televisão, que ficou o dia todo com uma tarja preta no canto da tela, para que fiéis doassem sangue em favor dos feridos, no Hospital das Clínicas. Quem aparecia era o ex-deputado estadual Geraldo Tenuta Filho, o Bispo Gê, presidente da Renascer. Uma lista com o nome dos feridos foi feita pela Renascer e pode ser consultada no site.  Ânimos exaltados Rivais na busca pela audiência, Globo e Record apresentaram em seus telejornais cobertura parecida sobre a tragédia. O tom da notícia, no entanto, foi mais duro na emissora líder de ibope do que na Record, rede que tem como acionista a também evangélica Igreja Universal. O estado exaltado de alguns fiéis que tentavam impedir o trabalho de jornalistas na área do acidente também foi retratado nos dois canais. Segundo a Central Globo de Comunicação, a repórter Maria Manso e o repórter cinematográfico Ronaldo de Sousa foram agredidos por um grupo de pessoas que montaram cordão de isolamento, impedindo a passagem da equipe no local do desabamento. As agressões, no entanto, ficaram de fora da edição dos telejornais. As redes católicas de TV estão tratando de forma diferente a tragédia no templo evangélico. Ontem, por exemplo, a Rede Vida ignorou o fato em seu telejornal das 18 horas. "Nossa linha editorial é não registrar tragédias", explica o diretor de jornalismo, Monteiro Neto. "Na época do Caso Isabela, queríamos ser um oásis para nosso telespectador, que só encontrava a tragédia nos outros canais." De acordo com o diretor, uma das intenções da missa noturna de ontem seria "pelas vítimas do desabamento em São Paulo", sem citar a Igreja Renascer. Já a TV Canção Nova e a TV Aparecida noticiaram o fato em seus telejornais, mas sem qualquer especulação de causas e sem citar polêmicas.

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