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Imigrantes dormem até em varandas e escadas na Espanha

Condições de moradia de estrangeiros ilegais são precárias no país.

Por Anelise Infante
Atualização:

O alto custo de vida na Espanha tem forçado imigrantes a alugar camas em cozinhas e até escadas e sacadas em prédios. Em cidades como Madri, Barcelona, Valencia, Vigo e Bilbao, a polícia espanhola recebeu denúncias de ONGs e de vizinhos de sublocação de varandas, pelas quais os imigrantes pagam entre 80 e 120 euros por mês (entre R$ 210 e R$ 315) para dormir durante o verão. "Vimos exemplos assim em Madri, de casas de 25 metros quadrados divididas por 20 pessoas", diz o porta-voz da ONG SOS Racismo, Javier Ramirez, que monitora a vida de imigrantes na Espanha. "Elas cabem onde ninguém caberia, e pagando entre 100 e 200 euros por mês (entre R$ 260 e R$ 320)." Segundo a polícia e as ONGs, as etnias que vivem em piores condições são os africanos e romenos, que estão chegando a criar favelas montando barracos de madeira nas periferias das metrópoles espanholas. Brasileiros Segundo os policiais espanhóis, os latino-americanos geralmente optam pelas chamadas "casas-balsa" - pequenas moradias com várias pessoas da mesma nacionalidade. É o caso do rondoniense G.A.S., 33 anos, que mora em Madri há cinco anos. Ele divide um apartamento de cerca de 50 metros quadrados com outros seis brasileiros. Moradias repletas de imigrantes viraram uma solução para a precariedade dos ilegais. O operário de construção G.A.S. é o único na casa que tem documentação legal para morar na Espanha. Assinou o contrato e subloca o apartamento para os outros brasileiros que conheceu em Madri. "Primeiro, porque fica mais barato. Segundo, porque como brasileiro a gente tem que ajudar um ao outro", justifica G.A.S, que pediu para ser identificado apenas pelas iniciais. "Todo mundo que está aqui trabalha, mas não consegue alugar um apartamento", acrescenta. "Ficamos todos juntos, meio embolados, mas somos como uma família." O caso brasileiro é uma realidade comum entre os estrangeiros ilegais. Muitos apartamentos oferecem a opção das chamadas "camas quentes". São colchões alugados por tempo, turnos normalmente de 12 horas, que vão das 8h às 20h e das 20h às 8h. "Infelizmente, é mais comum do que se pensa", afirma o porta-voz da ONG SOS Racismo. "Uma pessoa chega do trabalho, dorme e deixa a cama livre para que entre outra. Por isso, ganhou esse apelido de cama quente porque nunca dá tempo de esfriar." Segundo a polícia, a Justiça pode atuar nos casos em que os imóveis são alugados por legais ou espanhóis, porque existe a possibilidade de exploração de imigrantes. Mas, na maioria dos casos, ninguém denuncia por medo. Analfabetismo funcional Um informe da Comissão Espanhola de Ajuda ao Refugiado (CEAR) chamado "Acesso à Moradia de Imigrantes e Refugiados" indicou as causas do fenômeno "casas-balsa". Segundo o relatório, os estrangeiros ilegais passam dificuldades porque contraem dívidas para financiar a viagem à Espanha e por causa da necessidade de mandar dinheiro às famílias nos países de origem. Eles também sofrem com a instabilidade jurídica da sua situação ilegal e com o desconhecimento da língua, das leis, da cultura e dos costumes do país - condição classificada pelo relatório como analfabetismo funcional. Fatores emocionais e sociais - como a ausência da família, solidão e racismo - forçam muitos imigrantes a aceitar moradias em condições insalubres. No caso dos brasileiros de Rondônia (cinco dos sete do apartamento de G.A.S. são do Estado), há camas nos dois quartos e na sala, pelas quais os inquilinos pagam proporcionalmente o aluguel total de 700 euros por mês (cerca de R$ 1,8 mil). "Às vezes, estamos todos num domingo de tardinha, por exemplo. Mas o normal é ver um ou dois por dia", conta G.A.S. "Cada um tem um horário e assim dá para usar banheiro e cozinha, ver televisão, DVD... Tudo sem problema. Ninguém se encontra, e funciona bem." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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