Inauguração de Vila Olímpica no Rio vira palanque político

Prefeitura só espera confirmação da presença de Lula para fazer a apresentação oficial do local, ainda inacabado

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Por Bruno Lousada
Atualização:

TRABALHO INCOMPLETO - Embora inauguração do local esteja próxima, ainda faltam obras a serem finalizadas

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RIO

A Vila Olímpica de Mato Alto, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio), está em construção desde 2002. A obra, que já esbarrou em questões ambientais, agora se depara com outro obstáculo para sua inauguração: depende de uma lacuna na agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A previsão é de que o local seja aberto na segunda-feira sem estar totalmente pronto. Falta erguer um ginásio poliesportivo. "Mas, se ele (Lula) não puder na segunda, pois a agenda dele está cheia, vamos esperar que volte ao Rio para inaugurar", disse o secretário municipal de Esportes do Rio, Chiquinho da Mangueira.

Enquanto isso, várias crianças e atletas revelações como Bárbara Leôncio, usada como garota-propaganda na bem-sucedida campanha do Rio pelos Jogos de 2016, permanecem à espera de um lugar apropriado para treinar. Com investimento público de R$ 7,1 milhões, a Vila Olímpica já nasce deficiente: não há sala de musculação, embora ofereça três piscinas, dois vestiários, três quadras poliesportivas, um salão de dança e uma sala de artes marciais.

"Ouviram engenheiros, arquitetos, menos os professores de Educação Física. Não existe sala de musculação, que é tudo para o atleta. Sem desenvolver força, o atleta não vai a lugar nenhum. Um complexo esportivo precisa ter tudo", reclamou Paulo Servo, treinador de jovens do instituto Lançar-se Para o Futuro, entre eles Bárbara, que treinam na vila antes mesmo da inauguração. O técnico diz que a musculação é fundamental para os atletas passarem por um ano cheio de competições. "Na base (período inicial da preparação, entre setembro e janeiro), eles não dão nem sequer um tiro (corrida). Só fazem exercícios para aguentar a temporada."

Os alunos correm na vila, numa pista de atletismo que ficou pronta em 2007, sem o cuidado adequado e com rachaduras. Em julho, um parecer da Comissão de Esportes da Câmara de Vereadores determinou o fechamento do local por falta de segurança - era um canteiro de obras. O problema, agora, é outro: "Falei sobre a necessidade de uma sala de musculação com os arquitetos e os engenheiros e eles disseram: "Ih professor, é mesmo..." Vou sugerir isso ao prefeito (Eduardo Paes). Espaço para isso tem."

Nesta semana, a equipe não treinou. Não por preguiça ou férias. Simplesmente porque não podia usar a vila, que passava por retoques para a abertura oficial. Tudo tem de estar perfeito para as autoridades brindarem mais uma obra inaugurada. "Na hora em que o povo tiver acesso à iniciação esportiva, vamos brigar por mais medalhas", argumentou Servo, convicto de que seu trabalho pode contribuir para isso. "Aqui será um celeiro de craques. Mas só o talento não basta. A gente precisa de uma academia. Não existe atleta de ponta que não pegue ferro", reforçou.

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Se depender de Chiquinho da Mangueira, o pedido não será atendido. "Não existe academia em vila olímpica e não existe nenhum projeto para isso", afirmou, encerrando o assunto.

Entenda o Caso

Fim de 2002 - Início das obras da Vila Olímpica do Mato Alto.

2003 - Obra paralisada por causa de embargo imposto pela FEEMA, órgão do governo estadual.

2007 - A pista de atletismo da vila é aberta ao público.

Junho de 2009 - O local é interditado por falta de segurança.

Outubro de 2009 - Após vitória da candidatura do Rio em Copenhague, a atleta Bárbara Leôncio pede a liberação da pista da vila e é prontamente atendida.

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25 de janeiro - A vila deve ser inaugurada.

COLABORARAM AMANDA ROMANELLI e FÁBIO VENDRAME

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